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DESTAQUE

DESTAQUE
Eros Volúsia (Heros Volúsia Machado- 1914/ 2004) foi uma dançarina brasileira nascida no Rio de Janeiro, aluna de Maria Olenewa na Escola de Bailados do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, hoje Escola Estadual Maria Olenewa. Estreou no Teatro Municipal e pouco depois podia ser considerada a inventora da dança brasileira. As danças místicas dos terreiros, os rituais indígenas, o samba, o frevo, o maxixe, o maracatu e o caboclinho de Pernambuco foram algumas das fontes de pesquisa artística da bailarina. Em uma de suas inúmeras entrevistas dadas à Revista O Cruzeiro, Eros Volúsia sintetizou sua missão artística: "Dei ao Brasil o que o Brasil não tinha, a sua dança clássica!"

PUBLICAÇÕES

...

QUANDO NOVEMBRO CHEGAR...

Casa do Benin vista do Alto
do Pelourinho - Sede do CARDAN
Foto de Albenisio Fonseca
     No final do mês de outubro, será lançado oficialmente o CARDAN - Centro de Articulações e Referência em Dança Negra, um projeto gerido pelo bailarino e coreógrafo baiano Elísio Pitta, o qual já na primeira edição do EIDAN – Encontro Internacional de Dança Negra, em 2008, fomentava tal idéia. Passados três anos, de marchas e contra marchas, por conta de estudo de viabilização, formatação e, principalmente, de vontade política junto às autoridades competentes, o projeto magistralmente ganha vida e concretiza-se. Nesse ínterim, a dança negra veio mobilizando projetos individuais fortemente planejados para coletivos, os quais tomaram corpo, como a presente Revista pela qual vos falo
     A geração de artistas dos anos 90 da dança contemporânea carioca – como Lia Rodrigues, João Saldanha, Márcia Milhazes, Carlota Portela, Regina Miranda, Paula Nestorow, Gatto Larsen e Rubens Barbot, produziram com grande maestria o Centro Coreográfico do Rio de Janeiro
E a dança negra no século XXI produz o CARDAN, e Salvador tinha que ser verdadeiramente o grande protagonista desta obra diferencial comprometida com a produção memorial negra através da dança nacional e internacional, sendo um fundamental passo em nossa história nos últimos tempos.
Centro Coreográfico do
Rio de Janeiro
     As ações, na dança negra nacional, veem florescendo por conta de estímulos á organização, interação, gerência e fomento, como também, para conexões em coletivo de artistas, produtores e educadores, os quais fortalecem pela iniciativa, a valorização e consolidação dos nossos fazeres e saberes, tirando-nos em reboque do teatro, que também conta com seus problemas e articulações. O caminho construído por meio de rede, em roda e TERREIRO, nos faz fortes e plenos em axé, e o Fórum Nacional de Performances Negras foi um importante protagonista disto. Ações como o CARDAN, o Terreiro Contemporâneo de Dança, a Revista Terreiro Contemporâneo, o Dança Nas Favelas, são alguns dentre tantas outras atuAÇÕES que comprovam a consolidação e importância do Fórum na primeira década do século XXI para as artes e cultura negra brasileira.
     A edição Número Três da Revista Terreiro traz aos nossos amigos leitores as ações em verbo de Elísio Pitta, Betto Pacheco, João Costa, Rui Moreira e Claudia Ramalho. Novas ações na sala de vídeo, além de um belo poema da nossa escritora e poeta Conceição Evaristo e a bela produção de arte da nossa querida designer Verônica Luzia.
     Assim, quando novembro chegar haverá aplausos para muitas ações, principalmente para os gestores de idéias, que dão um duro danado para realizar suas propostas.
Fraternas saudações, axé e muita paz!

Gatto Larsen

DANÇOLOGIA NEGRA CARIOCA: Cia Aérea de Dança Incena

João Carlos Ramos 

Coreografar é trabalhar com a magia, com a mágica! (...) É a arte do encantamento. E eu quero encantar as pessoas
(João Carlos Ramos)

Apresento a seguir parte de uma experiência vivida como assistente e colaboradora no workshop ‘Salão InCena’, realizada no Rio de Janeiro no período de julho e julho de 2011, produzido e ministrado pelo coreógrafo e diretor João C. Ramos da Cia Aérea de Dança(RJ), o qual abordou de modo prático e teórico sobre tema processo coreográfico em dança, voltado para profissionais.   
- O desejo que move o criador:
Assim inicia Ramos, sobre o processo de coreografar em dança, abordando inicialmente sobre o desejo. Com uma experiência profissional de mais de vinte e seis anos, afirma que o desejo delineia e impulsiona este singular fazer artístico, revelando as diretrizes que fundamentam, no seu entendimento, o ato de coreografar: ‘como dar sentido ao espaço?’. A partir desta indagação incita aos participantes á criação de ações que exponham suas idéias, selecionando um tema com algo diferente ou mesmo com algo novo, sublinhando ser estes itens elementos impulsionadores do público querer sentar-se diante da obra para observá-la e possivelmente admirá-la.

CARDAN

Salvador ganha centro de articulações e  referência em dança negra

Salvador ganha nova singularidade a partir do próximo dia 28 de outubro com a implantação do CARDAN - Centro de Articulações e Referência em Dança Negra, na Casa do Benin (no Pelourinho). A iniciativa, segundo seu idealizador, o dançarino e coreógrafo, *Elísio Pitta, “visa dialogar, debater, reativar, e principalmente, promover um resgate de fundamental importância para a cultura negra, tanto na cidade como em âmbito nacional e  internacional”.
 De acordo com Pitta, o CARDAN tem como ponto de partida “a trajetória e o olhar legítimo de seus proponentes que se configuram, concomitantemente, como sujeitos e objetos de uma construção empírica baseada em parâmetros referenciais próprios”.

Terreiro Contemporâneo de Dança

Terreiro - Espaço de terra amplo, plano e despejado onde se cultuam idéias.
Contemporâneo - Que é do tempo atual; dos homens dos tempos de hoje.
Dança- Idas e vindas; arte; movimento incessante.

A ressonância de conversas entre representantes de companhias de dança, artistas independentes e pensadores que observam, valorizam e se inspiram na afrodescendência como elemento de construção da história arte contemporânea, desvelou um circuito de eventos que difunde pensamentos, práticas e que formam uma REDE onde os cruzamentos são luminosos.
Em observância a esta rede, surge o movimento batizado de - Terreiro Contemporâneo de Dança. Este movimento propõe colaborações que promovam foco sobre as danças negras contemporâneas, tradicionais e patrimoniais, induzindo a criação de circuitos de eventos para apreciação e reflexão de pensamentos sobre as consequências sociais, políticas e estéticas em torno destas experiências artísticas. O Terreiro Contemporâneo busca articular-se em espaços de imersão mobilizando pensadores, músicos, artistas visuais, dançarinos de danças patrimoniais, bailarinos acadêmicos, diretores de cena, coreógrafos e demais interessados na difusão de pensamentos, registros e publicações de obras produzidas com base no universo cultural negro - diaspórico  e africano.

PROJETO DANÇA DAS FAVELAS*

Meu Pai e minha Mãe na época do carnaval de rua lá pelos anos 68/70, levavam-me para assistir carnaval de rua na Lapa em São Paulo. Não sei bem aonde era a rua, mas sei que tinha um aglomerado de gente que me deixava extasiado. Os desfiles das Escolas de Samba, ou seja, Cordões que na época aconteciam na rua, separados por cordas passavam frenéticos. Eu, seis anos e minha irmã oito anos, atravessávamos esse isolamento e íamos ver o desfile de perto e nossos pais ficavam atrás.
Num desses carnavais estávamos no meio fio vendo o desfile (não sei de que Cordão) e passou uma ala de baianas, uma delas veio em minha direção e me colocou um cordão que ela estava usando. Eu comecei a pular e dançar de alegria. Meu pai ao ver aquilo ficou preocupado com aquilo que a mulher havia feito.
“- Bobagem nada de mais ela só gostou dele.” 
Muitos anos se passaram até que não deu mais.  Eu e a Dança nos encontramos, larguei tudo e me dediquei a Arte de Dançar, “Que Prazer! ” Claro que não com a total concordância do meu Pai...
“-É! Acho que foi aquela baiana que colocou feitiço em você!”

LUIZ GAMA

Para expandir o conhecimento aos leitores da nossa Revista Terreiro Contemporâneo,  que não têm acesso às informações das principais personalidades negras que muito contribuíram para a formação do povo brasileiro, nos campos: cultural, científico, jurídico, político, técnico, poético, literário, religioso, e de resistência, negadas que são pela história oficial. Publicaremos nessa e nas próximas edições, biografias de alguns personagens, que muito contribuíram  para nossa formação como povo, e que são perversamente negad@s  pelo sistema que nos impõem.
Luiz Gonzaga Pinto da Gama

      Luiz Gonzaga Pinto da Gama nasceu na cidade de Salvador, Bahia, no dia 21 de junho de 1830, filho de Luíza Main, africana liberta, e de um fidalgo português cujo nome nunca fora revelado pelo filho, "para poupar  à sua infeliz memória uma dolorosa injúria". Segundo a história oral, Luiza Main, mais de uma vez, na Bahia, fora presa por suspeita de envolver-se em planos de insurreição de escravos, inclusive na Revolta dos Malês, ocorrida em 1835.  Em 1837, fugiu para o Rio de Janeiro, onde desapareceu.
     As insurreições baianas fizeram parte da vida de Luiz Gama, que passou sua infância num ambiente habitado por diversas etnias, todas, submetidas à experiência da escravidão.

CIA BAOBÁ NA ECOLES DES SABLES DE GERMAINE ACOGNY - SENEGAL

Junia Bertolino, Lu Silva e Roberta Roldão

Entre os 40 bailarinos e coreógrafos de diversos países, como Alemanha, USA, França, Holanda, Japão, Congo, Burkina Faso, Nova Guiné, Costa de Marfim, Gabon, Togo, Suíça, Espanha, La Reunion, RDC e Chile, estávamos nós - Junia Bertolino e Lu Silva da Cia Baoba (BH) e Roberta Roldão (Uberaba) - representando o Brasil e um pouco da sua dança, aqui no Senegal. Como “negras” brasileiras, sentimos este um momento de forte intercâmbio cultural e muito estudo da dança africana, além da oportunidade singular de estar e estudar com Germaine Acogny, grande mestra da dança senegalesa no mundo.
No período de um mês e meio, 18 de julho a 27 de agosto de 2011, um curso foi oferecido na cidade de Toubab Dialaw no Senegal, pela Associação Jant-Bi, onde aprendemos muito com a África e nossos irmãos dançarinos de diásporas, possibilitando-nos intercâmbio cultural e ensinamentos da oralidade ancestral através das danças tradicionais, bem como seus diálogos com o contemporâneo. Este é o 14º estágio de formação profissional em danças tradicionais e contemporâneas africanas, criado em 1996 pela Ecoles Des Sables sob a direção artística de Germaine Acogny e Patrick Acogny, e com a direção administrativa de Helmut Vogt.

Estamos aqui, renascendo e fazendo conexões no nosso Tempo



Em 2008 o coreógrafo e bailarino Luiz Monteiro, num intervalo dos ensaios do espetáculo O Reino do Outro Mundo me disse que estava pensando em voltar a dançar e gostaria que eu fosse o diretor. Inclusive falou que estava iniciando uma pesquisa do Orixá Tempo.
No mesmo ano, sentimos que as novas idéias não circulavam e que pouco, ou nada, se publicava desses pensadores que não estão na mídia, nem na política e a companhia resolveu que faríamos uma revista.
Foto: Vantoen Pereira
Um ano depois, o coreógrafo e bailarino Elísio Pita, natural da Bahia, com uma carreira feita no exterior me confidenciou que estava pensando em voltar a dançar, estava sentindo saudades dos palcos.
Hoje, ano 2011, final do mês de Julho escrevo para o segundo número da Revista, depois de uma reunião com Luiz Monteiro sobre a montagem que estamos realizando sobre o Orixá Tempo. E me preparando para a reunião que vou ter amanhã via skype com Elísio Pita, com quem estamos montando um trabalho sobre Otelo com o qual voltará a dançar.
Enquanto isso a Revista Terreiro Contemporâneo está com mais de 2000 visitas, e penso nesse engraçado elemento chamado Tempo. As coisas acontecem no tempo de cada uma delas e não quando nós queremos. Ele, o tempo, flui num ritmo que a gente não consegue detectar, como diz o poeta Ferreira Gullar, “mais rápido no capital e mais lento nos legumes”. Coisas que eram aparentemente fáceis e aconteceriam de maneira natural em 2008 e 2009 precisaram desse tempo e, essa aparente espera foi, para dizer da verdade, o tempo de amadurecimento, de estudo, de pesquisa e sobre tudo o tempo de crescer e nos tornarmos adultos para essas determinadas coisas.
Num dos anos mais difíceis (2011), economicamente falando, para as artes em geral e em especial para nossa Companhia Rubens Barbot que, em Julho de 2010 um incêndio destruiu tudo e parecia que ali estava acabando, hoje, em Julho de 2011 está trabalhando como nunca, renascendo. Renascendo na montagem de “Tempo”, pronta e ensaiando, como na montagem de “Otelo”, que está começando, como renascendo também nas pesquisas para “Nascimento”, a nova coreografia de Rubens Barbot que terá sua interpretação. E continuamos renascendo, como na preparação do filme longa metragem “Territórios” de Allan Ribeiro, cujas filmagens começam em outubro, como na pré-produção de outros trabalhos, ainda sem nome para 2012.
Renascemos das cinzas e sem perceber, estamos fazendo a edição número dois da Revista com muitas colaborações – Nacional: fotógrafo Wilton Montenegro assina Carta á Ministra Ana de Holanda; a fotógrafa Marian Starosta expõe a obra ‘Iansã’; Claudia Ramalho na coluna Dançologia Negra sobre os 21 anos de luta da Escola de Mestre-sala, Porta-bandeira e Porta-estandarte Mestre Dionísio/RJ; o jornalista Carlos Maia entrevista a cineasta Jana Campos; Júnia Bertolino com artigo Dança Afro-brasileira; João Costa coluna Personalidades Negras: André Rebouças; a artista plástica Mariana Maia ensaio ‘Eis o marginal: como alguém se torna o que é’; - Internacional: colunista argentino da Revista Quilombo! Fabio Sambartolomeo com artigo Danças Afroargentinas de 1810 ‘Chica, calenda e bamboula… Já escutou esses nomes?’.
Enfim, tempo de renascer, fazer conexões, realizações, e dedicação. Muita dedicação! Tudo isso amparado pelo primoroso design de Verônica Luzia.
Á todos os colaboradores e leitores, nossos agradecimentos e fraternas saudações. Esta aí mais uma edição da Revista!
Axé e até Setembro!
Gatto Larsen

CHICA, CALENDA E BAMBOULA...

Revista Quilombo!
Historia | Danças Afroargentinas de 1810
Dança Bamboula
Já escutou esses nomes?
Por Fabio Sambartolomeo¹

A intervenção dos afros descendentes nos atos históricos de 25 de Maio de 1810 ficou, habitualmente, relegada à figura da vendedora mazamorra, uma comida a base de milho, e a do vendedor de pasteis.  Embora sua participação tenha sido muito maior marcando, entre outras coisas, ritmos e danças que posteriormente se tornaram símbolo nacional. Em quanto ás damas e cavalheiros criollos² dançavam minueto, outras danças também faziam parte daquela época.
A celebração de 25 de maio nos apresenta a possibilidade de refletir sobre nossa própria identidade como povo. Quais eram realmente as músicas e danças que ressonavam nas ruas de Buenos Aires no ano 1810? Em 1806, segundo dados presentes no Arquivo Geral de la Nación aproximadamente 30 mil africanos foram trazidos de forma forçada da  África subsaariana (a maioria das pessoas eram de procedência banto), para serem escravizados na zona. Somaram-se aos que já haviam ingressado em décadas anteriores, pois, como é sabida, nesse ano a porcentagem de afro portenho chegava a 30%.

DANÇOLOGIA NEGRA CARIOCA - ESCOLA MANOEL DIONÍSIO 21 ANOS FORMANDO NA ARTE DO BAILADO DO SAMBA


       Ao completar 21 anos de existência, em 17 de julho de 2011, forjados em resistência a Escola de Mestre-sala, Porta-bandeira e Porta-estandarte/RJ Manoel Dionísio (1990), faz-se reconhecida como uma das mais importantes referências do fazer-saber patrimonial da tradição do bailado do samba, representada na figura do casal responsável por empunhar á condução com beleza, cadência e graça o pavilhão de uma agremiação.
Por diretor-fundador e coordenador Mestre Manoel Dionísio, contando com uma assessoria de aproximadamente quinze profissionais de diferentes áreas: psicólogo, pedagoga, educador corporal, secretária, merendeira, técnico de som, contador, assessor de imprensa, assistente jurídico e os bailarinos do samba (instrutores masculinos e femininos), os responsáveis pela transmissão desta arte singular, apresentando um desempenho pedagógico, educativo, sociocultural e artístico, reconhecido nacional e internacionalmente, forjando uma história que conta com mais de duas mil formações, oferecida gratuitamente para crianças, jovens, adultos, terceira idade e especiais, com faixa etária entre 4 a 80 anos, provenientes das mais variadas comunidades cariocas, bem como, de outros estados e países.

EIS O MARGINAL: COMO ALGUÉM SE TORNA O QUE É

Mariana Maia, Cabide Nº1
Cabide, Tecido, Alfinetes.
Objeto 2011

            Trapo retorcido no cabide. Sou destino. Dobras, rugas, deformações alfinetadas delicadamente. Tecido amorfo grampeado no chassi-cabide. Contorcido, entre agulhas, parece sentir dor. Ironia trágica. A existência não seria possível sem a sustentação dos objetos perfurantes.
Moldamos um tecido fino com golpes de tesoura e pontas de agulha. Quem foram meus pais e minhas mães? Onde está minha herança? Diáspora. Tudo é corpo.  Negra, lábios grossos, nariz chato, cabelo duro, bunda grande, cabeça chata, barriga d’água, amarela. Horácio “respira cansado mais um pouco neste mundo tão duro, para todos contares minha história[1]. Tudo é sangue.
“De tudo o que se escreve, aprecio somente o que alguém escreve com seu próprio sangue. Escreve com sangue; e aprenderás que o sangue é espírito. Não é fácil compreender o sangue alheio; odeio todos os que lêem por desfastio.” [2].

CARA MINISTRA DA CULTURA ANA DE HOLLANDA

Wilson Montenegro

“Portbou é aquela cidadezinha espanhola na fronteira com a França onde Walter Benjamin, fugindo do nazismo, se suicidou. Na primavera de 1995 passei lá para visitar a sua tumba. Naturalmente, procurei-a no cemitério. Não a encontrei. De uma hora para outra, me dei conta de que não poderia estar ali: ele era judeu, e além do mais, suicida. O cemitério está sobre uma costa rochosa que se debruça sob o céu e o mar. Não muito longe dali, erguia-se do terreno a embocadura de um túnel. Pareciam vísceras de aço construídas com espessas chapas de metal como as dos encouraçados, com escamas de ferrugem causadas pelo sal e pelo tempo. Alguns degraus, também feitos de aço, desciam ao longo do túnel até o mar.

O CINEMA COMO POSSIBILIDADE DE REINVENTAR A REALIDADE


Jovem cineasta fala de sua relação com o continente africano através do audiovisual   

Por Carlos Maia

Carlos Maia

            Foi-se o tempo em que o pensar cinematográfico ficava restrito a uma pequena elite de pensadores e produtores que definiam os rumos do cinema e do que poderíamos assistir.  As novas tecnologias possibilitaram a entrada de novos realizadores no mundo do audiovisual. É o caso de Yana Campos, jovem carioca de 25 anos nascida no bairro do Estácio. Diferente de outros jovens de sua geração, que quando pensam em ir para o exterior vislumbram os Estados Unidos ou a Europa, Yana, que atualmente cursa Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro, sempre manteve o seu olhar voltado para o continente negro: “A África sempre esteve presente na minha vida em música, objetos e histórias orais contadas pela minha bisavó. Indo para Moçambique descobri tudo que vivi aqui lá. Sinto-me lá, acho que nunca consegui voltar completamente,” afirma. Esse contato com a África teve uma influência marcante no seu modo de relacionar-se com as artes, e o cinema em particular. Ela é diretora do documentário ‘Vozes de Moçambique – Um Paralelo com o Brasil’, onde entrevista figuras importantes da literatura moçambicana. O filme, realizado sem nenhum dinheiro, contou com apoio de amigos, o que é muito comum entre os novos cineastas: Filmes com orçamento zero, onde amigos se dividem em câmeras, fotógrafos, montadores e todas as funções pertencentes ao cinema.  O que mais a fascina na sétima arte é a possibilidade de inventar novos mundos, dar novo sentido ás coisas: “A recriação da realidade é o que tem me movido.

DANÇA AFRO-BRASILEIRA [1]

Cia Baobá
Júnia Bertolino[2]
                                              
A Cultura negra tem um potencial inesgotável de manifestações populares, as quais mostram a beleza da cultura afro-brasileira com os inúmeros ritmos, danças, músicas e instrumentos musicais, costumes e crenças transmitidos desde os primórdios. Por isto, pesquisar esses valores e principalmente as diversas manifestações é relevante, pois estimula e incentiva o culto às nossas origens promovendo uma maior conscientização e preservação de tão rico costume.
           

PERSONALIDADES BRASILEIRAS

João Costa Batista

Como todos nós temos o dever de saber, o povo brasileiro é formado por três grandes matrizes: a indígena, a africana e a européia, sem nenhuma hierarquia na sua importância. Entretanto, a matriz européia ignora a matriz indígena e africana. Isto nos reduz a uma parte de um todo. Isto nos diminui enquanto herdeiros de uma cultura ímpar, sem igual na formação de outros povos.
Este processo de negar o outro faz parte da cultura do colonizador que nos impôs, entre outras coisas, uma religião, uma indumentária, nossos sobrenomes, uma língua padrão e uma educação baseada na visão eurocêntrica, que nega e desqualifica as demais, portanto acrítica, privilegiando sobremaneira a história e a cultura ocidental européia.
Faz-se necessário corrigir a nossa história para as novas gerações escolares e tentar resgatar o prejuízo cultural causado ao restante dos brasileiros, principalmente aos descendentes de escravos africanos cujas seqüelas causaram e causam relevantes prejuízos nos campos das oportunidades, da auto-estima, do social, da religiosidade e da cultura.

POR UM GESTO HONESTO

“Estamos cansados de ver o papel que esta sendo dado (ainda) á dança. Parece que pensam que a condição da dança é etérea, bela (bela no sentido ‘lindo’ da palavra), e boba. Não podemos ignorar o meio onde criamos, os movimentos dos homens de hoje, o caos deste final de século onde a poesia está na busca de dignidade (tão perdida) na sujeira que nos rodeia, no amor escasso... E no meio de tudo isso, que procuramos [por] um gesto honesto, capaz de ser o elo de comunicação com o homem atual. Que o remeta ao seu passado se for o caso, ativando sua memória corporal, mas que de uma forma ou outra, o atinja, o motive e possamos estabelecer uma comunicação. Faltam pensadores em todos os sentidos. Na dança também falta ousadia e experimentação. Mas isso não é o ‘abc’ do nosso trabalho, nem poderia ser, pois estamos convencidos que, o que realmente une o homem ao seu antepassado são os gestos. A experimentação, a procura do movimento do homem e seu gesto seja no trabalho, no amor, na dança e a necessidade de uma imagem atual orientam o nosso projeto coreográfico. Por sobretudo [por] um gesto honesto.”
Barbot e Gatto Larsen 

Esse texto foi escrito por eu e Barbot, no finalzinho de 1989, sendo o impulsionador á criação e pela orientação de cada passo trilhado da Cia Rubens Barbot Teatro de Dança. Acreditando ainda que ‘muitos atropelos se cometem em nome da ARTE contemporânea, a Revista Terreiro Contemporâneo, ‘sem tirar nem por’ mirara-se neste pensamento para estabelecer e ampliar suas conexões e redes de relações, que por décadas são esteados pelo saber-fazer de bailarinos, coreógrafos, pensadores, técnicos, artistas em geral, no fundo, todos parceiros deste empreendimento.
Nesta primeira edição, que conta com as colaborações de Magliane, João Batista Costa, Rui Moreira, José C. Rodrigues, Júnia Bertolino e Claudia Ramalho, que se misturam a contribuição internacional como a do senegalês Patrick Acogny. E será com “quase” 1.000 visitantes, os quais inspiram a dinâmica de criação desta rede social que agradecemos á todos e todas pelo apoio ao nascimento de mais esta edição, nesta noite, do mês de maio de 2011.            

Gatto Larsen

A Dança Negra

Patrick Acogny
O presente texto representa uma tentativa de definição clara sobre as práticas que englobam diferentes correntes de pensamento de artistas negros africanos e das diásporas.
O que é a Dança Negra? Como distinguir da Dança Africana?
A Dança Negra é toda prática que se inspira seja nas danças locais e patrimoniais originárias diretamente do continente africano, seja nas danças derivadas do continente africano, seja nas danças que encontram uma inspiração mística, espiritual ou do imaginário e saber africano! Não é monopólio do continente, nem dos africanos da África. 

Dançologia Negra Carioca: A Dança Patrimonial do Samba em Passos, Cadeira e Cadência

Claudia Ramalho e
Mestre Manoel Dionísio
RESUMO
No ano de 2007 o samba carioca foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade através do documento Dossiê das Matrizes do Samba no Rio de Janeiro, e sua dança, conseqüentemente, ganha atenções à salvaguarda como parte importante na composição deste saber-fazer patrimonial de heranças culturais d’África. O artigo apresenta um processo de pesquisa sobre a linguagem da dança nas respectivas matrizes (re)conhecidas: samba de terreiro, partido-alto e samba enredo, apoiado também em seus ‘mestres’ e territórios - ‘espaços depositários, ’ importantes elementos delineadores deste singular estilo representativo da identidade como da memória cultural brasileira. Será primordialmente a partir da condição de intérprete-criadora da Cia Arquitetura do Movimento (2007 a 2011), e pesquisadora em dança, que empreendo e apresento esta breve dançologia do samba carioca. 

Palavra-Chave: Samba (Dança) - Rio de Janeiro – Patrimônio – Dançologia – Cia Arquitetura do Movimento I. Título.

Bom dia a todos!*

Rui Moreira
Antes de tudo celebro a iniciativa de reafirmar os valores deste projeto. Ao observar os movimentos políticos e sociais em torno da cultura no país, observo muitos avanços, mas também muitos pontos cegos ou de invisibilidade.  As discussões no ambito da dança generalizam sua fala para engrossar as petições públicas para que não sejam retirados da cultura recursos para dar continuidade a projetos específicos e também para manutenção dos atuais editais que bem ou mal sustentam parte significativa das cadeias produtivas setorizadas. Isto é um avanço.

Cia Baobá de Dança – Minas buscam conhecimento africano Dacar (Senegal) e Guiné Bissau.

Cia Baobá
A Cia. Baobá de Dança - Minas vêm atuando a mais de 10 anos na cidade de Belo Horizonte - Minas  Gerais. São diversos trabalhos em faculdades, seminários, projetos sociais, teatros, escolas, centros culturais, festivais e fóruns. A Cia  Baobá  foi criada em 1999 por Júnia Bertolino, Willian Silva e Jorge África para estimular e propor no cenário das artes cênicas de Belo Horizonte a representação e valorização das matrizes africanas presentes na identidade do povo brasileiro, retratados através da dança, música, poesia e teatro, a partir de pesquisas sobre a esta presença no caldeirão da cultura nacional. Na carreira vem com os espetáculos de dança, intitulado ‘Ancestralidade: Herança do Corpo’, concebido, dirigido e coreografado por Júnia Bertolino, sendo que o penúltimo espetáculo da Cia Baobá é ‘Quebrando o Silêncio’.
 Nas montagens atuais apresentam os espetáculos ‘Corporeidades Negras’ e ‘Mulheres de Baobá’. Dentre as inúmeras atividades, ressalto a parceria com o Palácio das Artes na comemoração do Dia da Consciência Negra, sendo que em 2009 lançou o Prêmio Zumbi de Cultura premiando em 2010 várias personalidades que tem trabalhos relevantes de arte negra na cidade de Belo Horizonte e no Brasil.  Já nas comemorações de 315 anos de Zumbi de Palmares o prêmio foi confeccionado pelo artista plástico Jorge dos Anjos e contou com vários grupos e artistas mineiros.

De Homens de Cor á Afro-Brasileiros

José R. da Silva
Resumo
Ao longo do século XX a construção da noção civil de afro-brasilidade foi liderada desde o pós-abolição da escravatura por homens, mulheres e entidades civis organizados por praticamente todo o Brasil. E em meio a contextos desfavoráveis como o da expectativa pelo embranquecimento da população ou do mito da Democracia Racial, inumeros personagens dedicaram-se a integração dos negros e negras á sociedade brasileira. Hoje com o avanço do debate sobre as demandas que envolvem ‘minorias étnicas’ e sociedades ‘multirraciais’, por exemplo, muitos estudiosos como Will Kymilicka propõem abordagens conceituais que ao passo que rediscutem os limites das sociedades liberais e democráticas procuram atender as demandas de grupos raciais historicamente desqualificados pela elite.

A revista, as Idéias e Nós.

No mês de setembro de 2008, num hotel de Copacabana no Rio de Janeiro em pleno domingo de manhã, enquanto uma chuva fina caía sobre o bairro e a primeira caminhada em prol da liberdade religiosa acontecia, Rui Moreira e eu, nos encontramos para trocar algumas idéias.
   Enquanto Rui estava propondo a circulação de companhias de dança num esquema especial para integrar os públicos de cada companhia nas suas respectivas cidades; 

Cidadania Negra

Muito se tem falado dos avanços e da melhoria das condições em que vive hoje a comunidade negra brasileira, no que se refere à melhoria da qualidade de vida, na educação, na moradia, no transporte coletivo, na segurança, no emprego, nas oportunidades no meio artístico, das artes plásticas, na literatura, no cinema e na televisão, nos cargos de primeiro escalão: das grandes empresas, da política partidária, do judiciário, dos gestores públicos etc. etc.  

Habitação Rural Quilombola no Litoral Norte do RS

Todos os brasileiros sabem da iniciativa do Governo Federal com o PMCMV – Programa Minha Casa Minha Vida no âmbito do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento. A “coqueluche” do momento, em termos de políticas de habitação para populações de baixa renda no Brasil.
   Entretanto, este programa que foi vedete nas ultimas eleições não contemplava a comunidade rural com renda de até três salários mínimos. Devido à demanda apresentada por pequenos agricultores e quilombolas, que não eram incluídos na categoria de pequenos agricultores, o Governo Federal em 2008 criou o PHNR – Programa Nacional de Habitação Rural.
     

Dançologia Negra Carioca: Cia. Rubens Barbot Teatro de Dança 20 Anos

Completando duas décadas de luta e forte contribuição á produção cultural contemporânea brasileira, Cia Rubens Barbot Teatro de Dança comemora presenteando o público com o espetáculo ‘40+20’. E ainda  mostram como no século XXI a arte continua ressurgindo das cinzas vencendo um incêndio que acabou com todo o acervo histórico de material cênico utilizado por estes em sua trajetória artística, fundada em produções cinematográficas, coreográficas, performances e espetáculos – figurinos, adereços, cenários, cds, aparelho de som, maquinas de costura, tecidos.

CAPOEIRA ANGOLA É CORPOREIDADE NEGRA – LUTA, TRADIÇÃO E ARTE


   Há muito tempo a sociedade vem questionando a história brasileira. A data 13 de maio de 1888 – Dia da Abolição da Escravatura, é motivo de reflexão sobre a luta dos negros no Brasil. Para os negros este dia tornou-se um dia de protesto, pois, diferente do que era contado nas escolas, descobri-se que a abolição não ocorreu por causa de uma princesa branca, boa e caridosa que ficou com pena dos negros e assinou a Lei Áurea. 

Dança Negra ou Afro-Brasileira? Reflexão

    A história da dança enquanto manifestação artística no ocidente é contada a partir das influências européias, abordando as sociedades Romanas e Gregas com citações ao Egito, chegando à corte Francesa no século XV. As publicações desconsideram as danças asiáticas e da África Negra. Por esta perspectiva, alguns compositores de obras operísticas incluíram na sua dramaturgia personagens exóticos como escravos negros ou mouros árabes e mais raramente orientais. Isto somente pontua um histórico de hegemonia branca.