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Eros Volúsia (Heros Volúsia Machado- 1914/ 2004) foi uma dançarina brasileira nascida no Rio de Janeiro, aluna de Maria Olenewa na Escola de Bailados do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, hoje Escola Estadual Maria Olenewa. Estreou no Teatro Municipal e pouco depois podia ser considerada a inventora da dança brasileira. As danças místicas dos terreiros, os rituais indígenas, o samba, o frevo, o maxixe, o maracatu e o caboclinho de Pernambuco foram algumas das fontes de pesquisa artística da bailarina. Em uma de suas inúmeras entrevistas dadas à Revista O Cruzeiro, Eros Volúsia sintetizou sua missão artística: "Dei ao Brasil o que o Brasil não tinha, a sua dança clássica!"

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CIA BAOBÁ NA ECOLES DES SABLES DE GERMAINE ACOGNY - SENEGAL

Junia Bertolino, Lu Silva e Roberta Roldão

Entre os 40 bailarinos e coreógrafos de diversos países, como Alemanha, USA, França, Holanda, Japão, Congo, Burkina Faso, Nova Guiné, Costa de Marfim, Gabon, Togo, Suíça, Espanha, La Reunion, RDC e Chile, estávamos nós - Junia Bertolino e Lu Silva da Cia Baoba (BH) e Roberta Roldão (Uberaba) - representando o Brasil e um pouco da sua dança, aqui no Senegal. Como “negras” brasileiras, sentimos este um momento de forte intercâmbio cultural e muito estudo da dança africana, além da oportunidade singular de estar e estudar com Germaine Acogny, grande mestra da dança senegalesa no mundo.
No período de um mês e meio, 18 de julho a 27 de agosto de 2011, um curso foi oferecido na cidade de Toubab Dialaw no Senegal, pela Associação Jant-Bi, onde aprendemos muito com a África e nossos irmãos dançarinos de diásporas, possibilitando-nos intercâmbio cultural e ensinamentos da oralidade ancestral através das danças tradicionais, bem como seus diálogos com o contemporâneo. Este é o 14º estágio de formação profissional em danças tradicionais e contemporâneas africanas, criado em 1996 pela Ecoles Des Sables sob a direção artística de Germaine Acogny e Patrick Acogny, e com a direção administrativa de Helmut Vogt.
Com relação á programação, tínhamos aulas de danças africanas: contemporânea, tradicional e moderna, com Patrick Acogny (França-Senegal), Solo Badolo (Burkina Faso), Cire Beye (Sengal), Sabar, Raouf Tchakondo (Togo) e Germaine Acogny (França-Senegal). Todos os profissionais buscavam nos passar toda sua experiência e técnica, juntamente com seu assistente Pierre Doussaint (França) O curso objetiva incitar reflexão sobre a história pessoal: a escolha pela arte e as dificuldades. E, sobretudo, levantar questionamentos: Como posso melhorar? Como posso aprender com o outro e trocar experiências? No Brasil, se faz urgente um curso e uma escola assim.
Germaine Acogny
 São vários os momentos marcantes do curso, mas a oportunidade de ter tido contato com a árvore Baobá foi, de sobremaneira, especial. Gostei muito também de ter tido contato com as rochas, com a natureza, pisar na terra, sentir e pensar no corpo jovial e no saber ancestral. Como também, o dia da palestra com Germaine Acogny sobre a criação na Ecoles Des Sables, foi  transformador ouvi-la falar sobre: seus sonhos e desejos; das dificuldades em alcançar seus objetivos; a sua linda arte, enfim, percebi que tudo isto tinha haver com minha vida especialmente. Acredito na beleza da arte, na dedicação e no compromisso para um bom trabalho. E essa escola foi muito importante para a África, por isso Germaine é uma grande referencia e mestra. E esta realização de sucesso e profissionalismo, torna-se, sobretudo para nós mulheres e bailarinas negras, um importante referencial.
Na primeira semana senti muita dificuldade com o ritmo, mas depois fui me acostumando. A questão da língua é complicado, e realmente limita um pouco a comunicação, pois queria expressar minhas idéias, contribuir com minha personalidade mas as vezes precisava ficar calada e até isso foi aprendizagem: calar mais, aceitar e apenas escutar, exercitar a dança. Tempo de estágio interessante, mas acredito que o periodo de 03 (tres) meses é ideal para uma maior profissionalização e aprendizado.
O dia de troca entre os alunos sobre as danças tradicionais, sobretudo as africanas, foi muito especial, como o espetáculo da companhia Jant-Bi, motivando o profissionalismo e a rica criação para futuros trabalhos da Cia Baobá. Esse encontro com os dançarinos africanos foi muito transformador, porque sendo o Brasil o segundo pais de população negra no mundo, sabemos da importância deste legado. Portanto, estar com a grande mãe África e pensar em nossos ancestrais, refletir de qual etnia pertenço: senegalesa, guinense, angolana, etc, estar aprendendo com artistas africanos, foi maravilhoso.
A felicidade em ter estado nesta terra especial parte de minha história e herança, vibrando com cada dança africana do Togo, Burkina Faso, Congo, Gabon; Costa de Marfim e outras, foi muito rico como aprendizagem. A familiaridade reconhecida em meu corpo, em sua história e dança, por meio dos ensinamentos passados pelos mais velhos, com sua força foi algo ancestral.
Continuar essa formação se faz desejo e necessidade, pois entendi minha trajetória na arte e porque vim parar aqui. Para cumprir a missão na arte tenho que ter humildade, dedicação, sabadoria e disposição. Dançar é um dom divino e precioso. É uma comunicação especial dos homens com Deus. Oxalá me dê saúde e força para servir e dançar muito, com verdade e alegria.
Um dos momentos de aula do Curso
15 anos danço profissionalmente, mas tenho sede de informação para melhorar sempre o meu trabalho. Cursei em 2010 uma pós-graduação em Estudos Africanos e AfroBrasileiros pela PUC-MINAS, defendendo monografia sobre ‘Expressões de Ancestralidade Negra na dança afrobrasileira, como pretexto á conhecer mais nossa historia e identidade negra, como sobre a importância da performance e da profissionalizacao dos artistas negros.
O curso no Senegal chegou num momento importante estimulando novas possibilidades, como o projeto que vou fomentar através da Cia Baobá, tendo a Germaine Acogny como coordenadora na criação do espetáculo tendo a participação de dancarinos de diferentes nacionalidades que passaram pela escola dela. No ano de 2009 Rui Moreira e Gil Amancio participaram deste curso e 2010 foi a vez de Paula e Gaya Dandara, artístas e bailarinas de Belo Horizonte. Assim, ter estado no curso foi muito importante pois possibilitou unir a prática e teoria, a academia a arte, o fazer cultural e a corporeidade negra.
Á caminho de um mestrado em Artes desejo ter a dança e arte africana como prioridade de diálogo com a arte brasileira, por isso ter a técnica da Germaine Acogny, a experiência do Patrick Acogny como grande coreógrafo e pedagogo, ou a experiência da Ecole Des Sables com essa difusão da arte negra e preocupação com a formação de novos dançarinos e coreógrafos, são importantes. O primeiro passo já foi dado com a participação no curso no Senegal, e agora dou continuidade cursando matérias isoladas no mestrado de arte da Universidade Federal de Minas Gerais, onde me formei em antropologia.
Agradeço a Ecoles Des Sables toda aprendizagem, oportunidade e apoio com passagem aérea junto ao Ministério da Cultura através da embaixada brasileira. Como também, pela bolsa para o curso, especialmente para a Maria de Lourdes que teve a passagem financiada pela Secretaria de Cultura do Estado de Minas Gerais, outra integrante da Cia Baobá que me ajudará a repassar os ensinamentos absorvidos no curso.

Agradecimento: Ao Centro Internacional de Formação em Danças Tradicionais e Contemporâneas da África; a Jant-Bi/ Ecoles Des Sables, Tobab Dialaw – BP 22626, 15523 Dakar / Senegal