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Eros Volúsia (Heros Volúsia Machado- 1914/ 2004) foi uma dançarina brasileira nascida no Rio de Janeiro, aluna de Maria Olenewa na Escola de Bailados do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, hoje Escola Estadual Maria Olenewa. Estreou no Teatro Municipal e pouco depois podia ser considerada a inventora da dança brasileira. As danças místicas dos terreiros, os rituais indígenas, o samba, o frevo, o maxixe, o maracatu e o caboclinho de Pernambuco foram algumas das fontes de pesquisa artística da bailarina. Em uma de suas inúmeras entrevistas dadas à Revista O Cruzeiro, Eros Volúsia sintetizou sua missão artística: "Dei ao Brasil o que o Brasil não tinha, a sua dança clássica!"

PUBLICAÇÕES

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DANÇOLOGIA NEGRA CARIOCA: Cia Aérea de Dança Incena

João Carlos Ramos 

Coreografar é trabalhar com a magia, com a mágica! (...) É a arte do encantamento. E eu quero encantar as pessoas
(João Carlos Ramos)

Apresento a seguir parte de uma experiência vivida como assistente e colaboradora no workshop ‘Salão InCena’, realizada no Rio de Janeiro no período de julho e julho de 2011, produzido e ministrado pelo coreógrafo e diretor João C. Ramos da Cia Aérea de Dança(RJ), o qual abordou de modo prático e teórico sobre tema processo coreográfico em dança, voltado para profissionais.   
- O desejo que move o criador:
Assim inicia Ramos, sobre o processo de coreografar em dança, abordando inicialmente sobre o desejo. Com uma experiência profissional de mais de vinte e seis anos, afirma que o desejo delineia e impulsiona este singular fazer artístico, revelando as diretrizes que fundamentam, no seu entendimento, o ato de coreografar: ‘como dar sentido ao espaço?’. A partir desta indagação incita aos participantes á criação de ações que exponham suas idéias, selecionando um tema com algo diferente ou mesmo com algo novo, sublinhando ser estes itens elementos impulsionadores do público querer sentar-se diante da obra para observá-la e possivelmente admirá-la.

Para Ramos, a qualidade fundamental de um COREÓGRAFO esta na necessidade de pesquisar, garimpar e analisar o movimento, bem como, de compreender seus agentes transformadores (espaço, tempo e dinâmica), os quais instrumentalizam o desenvolvimento da criação coreográfica a partir da busca de novos outros modos de enxergar, perceber e ouvir o movimento, o ‘mesmo’ movimento.
Como destaque Ramos fala sobre a questão do tempo que uma coreografia leva para ser feita, exigindo nossa atenção e paciência para perceber a proposta, não se resumindo na ação de por ‘um passo atrás do outro’ e apresentá-la ao público, como apresenta comumente o universo da dança de salão.
Não estamos falando de um momento de improvisação no salão! Não estou falando de baile! Isso aí qualquer dançarino faz isso! Qualquer dançarino tem capacidade pra fazer isso! Eu não estou sendo coreógrafo! Chega aqui parece que eu estou no baile dançando, passei pro soltinho, aí virou samba! Mas isso não é uma proposta coreográfica! (...) Cada um vai pegar essa seqüência, e ver quais são os PONTOS que podem dar alguma deixa (...) o desenho (...). Então, vou treinar algumas vezes a articulação, a sustentação dirigindo o movimento aonde este deve parar, prosseguir, aumentar o nível, girar, saltar (…).”

 E prossegue chamando atenção para investigação do movimento:
Veja bem, o movimento em si ele pode de cara lhe falar alguma coisa; Pode apontar á uma direção e gerar novas células coreográficas para usar no desenvolvimento da composição; Têm movimento que chega a gritar no seu ouvido! E você é surdo! O movimento grita: ‘olha eu aqui, me olha!’ (…) Ou você precisa às vezes investigar um pouco mais, porque o movimento está ali, mas às vezes encoberto por uma ação. Às vezes eu estou aqui observando possibilidades (...) e então eu vou começar a investigar isso: será que ela pode virar assim e sustentar assim? (…) E ver: onde isso pode dar? (...) Onde ele pode me levar? Não sei! Eu vou ficar investigando, explorando cada momento dele (...).
Ramos nos apresenta também, alguns questionamentos que delineiam a interferência do coreógrafo em seu processo de utilização das ferramentas de estudo:
Cia Aérea de Dança
Como é que eu posso me portar? O quê que eu coloco como missão? O quê que o parceiro trás como retorno? O quê que você enquanto dama, no caso não importa se você esta coreografando ou não, pode ajudar? Como é que eu auxilio o criador? Qual é a minha participação neste movimento? (...) qual foi a sua INTERFERÊNCIA enquanto coreógrafo?(...) Não ache, veja o que ti interessa! E o que não interessar deixe pra lá! Mas mesmo sem interessar você pode mudar alguma coisa aí. (…) alterar o ESPAÇO, o TEMPO, a DINÂMICA (…) ver os links: de onde partiu e chegou.

E quanto ao desenvolvimento de uma idéia central – o TEMA, Ramos reafirma a necessidade da localização de uma CÉLULA, buscando revisitá-la para perceber outros caminhos – os SUBTEMAS, ao invés de se ficar fazendo muitos movimentos, escolher um e começar a investigar e repetir este algumas vezes, buscando ver o quê o movimento lhe fala. E enfatiza, que precisamos ver um pouco o que o movimento está nos falando, repetindo-o, abrindo suas possibilidades, desenvolvendo-o, explorando, estudando, pesquisando. E por fim reafirma:
É uma maneira de coreografar? Com certeza é! Eu não estou dizendo que é certa! Eu estou dizendo que o caminho que você está acostumado lhe levou até aqui na sua vida, onde você está! Para você chegar á outro lugar precisa experimentar outros caminhos que vão até lhe ajudar, desde que se permita neste outro caminho. Eu só quero que você encontre outras maneiras de investigar(…) trazendo outros olhares, mostrando lugares e detalhes que nesta caminhada  você não conseguiu ainda ver.

Sobre a musicalidade, Ramos nos indica abrirmos atenção para observar e sentir a música a partir dos estímulos sonoros, desenvolvendo um rol de informações sobre timbres, andamentos, explorar tipos de ação que permitam transformar a dinâmica, o tempo, o espaço enfim. E segue na exposição de seu olhar sobre o processo coreográfico:
(…) não é porque eu estou coreografando uma música que eu vou botar ‘um passo atrás do outro’. Aqui tem ‘tam’ eu faço ‘tam’ (…) Tem coisa que chega a chamar o público de burro. (…) Tem coisa que o pessoal está confundindo musicalidade com redundância. Não tem nada a ver! (…) Eu não preciso o tempo inteiro estar trabalhando o andamento, também posso rompê-lo. E o que predomina na dança de salão é a utilização literal do tempo de uma música. (…) A escolha da música como ou som – efeitos sonoros, como o silêncio, pesquisando para trazer novas idéias, outros sons para o trabalho coreográfico, abrindo assim a mente á novas possibilidades.

Michele Reis
De maneira geral, através do I Workshop salão Incena, o coreógrafo e diretor da Cia Aérea de Dança João C. Ramos dedicou atenção á apresentação de algumas de suas estratégias no desenvolvimento de uma construção coreográfica. Instrumentos e caminhos importantes para serem compartilhados com outros profissionais e amantes da dança, e por isso a coluna DANÇOLOGIA NEGRA CARIOCA dedicou atenção nesta terceira edição sobre o universo do processo coreográfico afro-brasileiro, brasileiro antes de mais nada. Exercitar este processo e buscar corromper o fazer coreográfico, imprimindo a personalidade do coreógrafo e seus intérpretes, faz-se fundamental na temporalidade contemporânea da dança brasileira.