Pesquisar Neste Blog

Total de visualizações de página

DESTAQUE

DESTAQUE
Eros Volúsia (Heros Volúsia Machado- 1914/ 2004) foi uma dançarina brasileira nascida no Rio de Janeiro, aluna de Maria Olenewa na Escola de Bailados do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, hoje Escola Estadual Maria Olenewa. Estreou no Teatro Municipal e pouco depois podia ser considerada a inventora da dança brasileira. As danças místicas dos terreiros, os rituais indígenas, o samba, o frevo, o maxixe, o maracatu e o caboclinho de Pernambuco foram algumas das fontes de pesquisa artística da bailarina. Em uma de suas inúmeras entrevistas dadas à Revista O Cruzeiro, Eros Volúsia sintetizou sua missão artística: "Dei ao Brasil o que o Brasil não tinha, a sua dança clássica!"

PUBLICAÇÕES

...

PERSONALIDADES BRASILEIRAS

João Costa Batista

Como todos nós temos o dever de saber, o povo brasileiro é formado por três grandes matrizes: a indígena, a africana e a européia, sem nenhuma hierarquia na sua importância. Entretanto, a matriz européia ignora a matriz indígena e africana. Isto nos reduz a uma parte de um todo. Isto nos diminui enquanto herdeiros de uma cultura ímpar, sem igual na formação de outros povos.
Este processo de negar o outro faz parte da cultura do colonizador que nos impôs, entre outras coisas, uma religião, uma indumentária, nossos sobrenomes, uma língua padrão e uma educação baseada na visão eurocêntrica, que nega e desqualifica as demais, portanto acrítica, privilegiando sobremaneira a história e a cultura ocidental européia.
Faz-se necessário corrigir a nossa história para as novas gerações escolares e tentar resgatar o prejuízo cultural causado ao restante dos brasileiros, principalmente aos descendentes de escravos africanos cujas seqüelas causaram e causam relevantes prejuízos nos campos das oportunidades, da auto-estima, do social, da religiosidade e da cultura.

A aplicação da Lei 10.639/93 e 11.645/08 foi início de uma longa caminhada para a construção de uma nação, cujos filhos terão muito orgulho de seus antepassados, verdadeiros heróis que deram suas vidas e suas inteligências á construção civilizatória da nossa terra amada Brasil. Parafraseando na poesia de Gonçalves Dias:
Nosso céu terá mais estrelas,
Nossas várzeas terão mais flores,
Nossos bosques terão mais vida,
Nossas vidas mais amores.
Para lembrar á alguns e informar aos leitores da nossa Revista Terreiro Contemporâneo, que não têm acesso às informações das principais personalidades negras que muito contribuíram para a formação do povo brasileiro, em diferentes campos de resistência: o cultural, o científico, o jurídico, o político, o técnico, o poético, o literário e o religioso, que são negados pela história oficial, publicaremos nessa e nas próximas edições, biografias de alguns personagens que muito contribuíram para nossa formação como povo, e que são perversamente negados pelo sistema que nos impõem.
Iniciaremos com André Rebouças.

André Rebouças
André Pinto Rebouças nasceu a 13 de janeiro de 1838, em Cachoeira – Bahia. Muito dedicado aos estudos, formou-se aos 22 anos, em engenharia pela Escola Central no ano de 1860, e especializou-se na Europa em fundação e obras portuárias. Edificou várias ferrovias, participou da construção do porto do Rio de Janeiro e de vários outros portos brasileiros. Foi o construtor das primeiras docas nas províncias do Rio de Janeiro, Maranhão, Pernambuco, Bahia, e na Paraíba. Esteve à frente de projetos de ferrovias e de abastecimento de água.
Na sua luta contra a escravidão, André Rebouças, fundou juntamente com Joaquim Nabuco o Centro Abolicionista, na Escola Politécnica, onde eram professores. Joaquim Nabuco assim o descreveu: “Matemático e astrônomo, botânico e geólogo, industrial e moralista, higienista e filantropo, poeta e filósofo. Rebouças foi, talvez, dentre os homens nascidos no Brasil o único universal pelo espírito e pelo coração."
            O grande engenheiro André Rebouças foi um lutador incansável contra a escravidão negra e utilizou toda sua inteligência em defesa da libertação de seus irmãos de cor, transformando-se num dos mais ativos militantes do movimento abolicionista. Como jornalista escreveu vários artigos sobre as mazelas do regime escravista, inclusive foram bastante utilizados no manifesto da Confederação Abolicionista, e apesar  disso, nunca foi citado pelos historiadores oficiais, nem seu nome consta nos livros escolares sobre a “História do Brasil”.
Foi como intelectual negro que tornou públicos diversos de seus escritos, através dos quais estudou com profundidade os fundamentos da estrutura agrária em nosso país, as conseqüências do que poderia vir a acontecer com a eliminação do trabalho escravo, crendo que o braço do imigrante seria capaz de solucionar as dificuldades rurais no Brasil.
Sabiam os escravocratas que Rebouças não somente havia lutado pela extinção da cativeiro no Brasil, mas que fora ele o responsável pela organização de grupos de resistência negra. Temiam-no, pois, por conhecer seus pensamentos a respeito da libertação. Com ele, a luta continuaria! Ele afirmava: A “Abolição” não significa o fim da escravidão, muito menos a conquista da verdadeira liberdade, ideal perseguido pelos negros durante mais de três séculos. E os escravocratas odiavam-no, pois pleiteava para o negro liberto no Brasil sua integração à sociedade, possibilidades idênticas às dos brancos, respeito à sua religião e um natural desenvolvimento cultural, portanto, porque sabiam que antes de ser um libertador, ele era um cientista, um técnico conhecedor dos métodos capazes de banir de vez o “cancro fatal da escravatura, fonte de imortalidade e de ruína”.
Após a proclamação da República em 1889, com a destituição da família Imperial, Rebouças acompanho de D. Pedro II ao exílio, indo depois trabalhar nas colônias portuguesas do continente Africano, onde viveu durante seis anos, não mais retornando ao Brasil. Fixou-se na Ilha da Madeira, em Funchal, e faleceu em maio de 1898, aos sessenta anos de idade. Com ele aprendemos que o 13 de maio de 1888 não deve ser lembrado como data da libertação, mas sim como marco de uma luta que continua até os dias de hoje.


Referências Bibliográficas:
DANIEL, Néia – Memória da Negritude Brasileira – Fund. Cultural Palmares – DF -1994
OLIVEIRA, Eduardo – Quem é Quem na Negritude Brasileira – Min. da Justiça - 1998
LAZARONI, Dalva – Quilombos e Tiradentes na Baixada Fluminense – Ed. Entrelinhas – 2001.
SILVA, Eduardo – Nossa História – ano 2, nº 19 – Ed. Vera Cruz Ltda – 2005.