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Eros Volúsia (Heros Volúsia Machado- 1914/ 2004) foi uma dançarina brasileira nascida no Rio de Janeiro, aluna de Maria Olenewa na Escola de Bailados do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, hoje Escola Estadual Maria Olenewa. Estreou no Teatro Municipal e pouco depois podia ser considerada a inventora da dança brasileira. As danças místicas dos terreiros, os rituais indígenas, o samba, o frevo, o maxixe, o maracatu e o caboclinho de Pernambuco foram algumas das fontes de pesquisa artística da bailarina. Em uma de suas inúmeras entrevistas dadas à Revista O Cruzeiro, Eros Volúsia sintetizou sua missão artística: "Dei ao Brasil o que o Brasil não tinha, a sua dança clássica!"

PUBLICAÇÕES

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DANÇA AFRO-BRASILEIRA [1]

Cia Baobá
Júnia Bertolino[2]
                                              
A Cultura negra tem um potencial inesgotável de manifestações populares, as quais mostram a beleza da cultura afro-brasileira com os inúmeros ritmos, danças, músicas e instrumentos musicais, costumes e crenças transmitidos desde os primórdios. Por isto, pesquisar esses valores e principalmente as diversas manifestações é relevante, pois estimula e incentiva o culto às nossas origens promovendo uma maior conscientização e preservação de tão rico costume.
           
    Dentre os vários estudos sobre a dança afro-brasileira, vários autores apresentam a definição de que a dança afro-brasileira compõe-se de conjunto de diferentes danças e dramatizações, que apresentam em comum a raiz negra africana. Sabemos que a dança africana foi recriada no Brasil, nas diferentes épocas e regiões, visto que esse legado ganhou novos significados e expressões. Hoje no debate e estudos sobre a dança afro é muito importante temáticas sobre tradição, oralidade e como a identidade é trabalhada na prática da dança.  Santos, ressalta que a riqueza dessas danças está, sobretudo na sua origem, visto que algumas delas eram realizadas para recordar ou relatar aos mais jovens fatos históricos marcantes, pois além de reforçar tradições e fundamentos da sua cultura, as danças tornavam-se um importante meio de auto-afirmação do grupo familiar ou social. Para vários estudiosos desta prática no Brasil encontram-se nas manifestações da cultura popular: jongo, batuque, samba reggae, afoxé, samba de roda, dança do maculelê, reggae e danças rituais.
 Também se destaca a dança afro-brasileira propriamente dita, criada a partir do cotidiano do negro africano, os momentos da vida diária da tribo africana – como a colheita, o corte da cana, a preparação da farinha, a caça ou a pesca – ou ritos e tradições, como a chegada de um rei, a coroação ou a morte.
No que diz respeito à dança afro-brasileira acredito que ela é uma das formas que o negro encontrou e encontra atualmente na sociedade moderna, através da cultura e sua religiosidade para se auto-afirmar e conhecer mais sobre sua origem, sua cultura e quem ele é.
Segundo Ana Luísa Coelho Moreira que retrata a importância da dança afro na construção da identidade negra[3], atualmente um grande número de pessoas estão procurando aprender a dança afro brasileira como forma de lazer, adquiri mais informação sobre essa manifestação e também de valorizar a rica cultura afro-brasileira, neste sentido a autora diz:
Esse processo de construção que permite o autoconhecimento do negro chama-se identidade. O indivíduo, na construção permanente de sua identidade, é constituído pelas suas próprias concepções acerca de si mesmo e da realidade, na qual estão as relações interpessoais. Essas inter-relações carregam uma série de valores, crenças, padrões e normas de uma sociedade, que por sua vez, é composta por indivíduos que a determina e são determinados por ela. (MOREIRA 2005: 43 e 46). 

- A DANÇA AFRO EM MINAS E SUA PRECURSORA
Em Minas Gerais, temos como pioneira da dança afro a mestra Marlene Silva que desenvolve atividades artísticas no exterior e no Brasil, sendo responsável por diversos profissionais que atuam na área de dança afro em Belo Horizonte. Marlene teve como mestra Mercedes Bastista (considerada a mãe do Balé afro no Brasil) do Rio de Janeiro que foi discípula de Katherine Dunhan que criou em New York a “técnica Dunham” baseada na estrutura do negro norte americano. Dentre os vários trabalhos realizados foi coreógrafa do filme ‘Xica da Silva’, de Cacá Diegues. Recentemente desenvolveu trabalhos com os alunos da UNI-BH e crianças e adolescentes do ‘Comunidade Paulo Sexto’. Atualmente Marlene revela que um dos trabalhos mais gratificante no momento é a “Dança Terapia para Melhor Idade”, projeto aprovado no qual desenvolve atividades com 100 senhoras. Outro projeto importante foi o da escola de samba, desenvolvido em Sabará, contando com dança, artesanato e percussão, e tendo mais de 60 crianças e adolescentes. Ela começou recentemente o mesmo projeto em Lagoa Santa. Marlene vem desenvolvendo trabalhos no Grupo Cultural Arautos do Gueto, na escola Modesto Cravo (Bairro Cidade Nova), onde trabalho com as crianças e os professores. Em todas essas atividades a mestra Marlene esta sempre acompanhada pela professora e bailarina Liliane Saldanha, que integra a Cia  DançArte Marlene Silva. Marlene completou 70 anos, se dedicando por 45 anos ao trabalho de dança afro-brasileira em Minas, no cenário nacional e no exterior.

- QUEM TORNOU A DANÇA AFRO CONHECIDA NO BRASIL?
Mercedes Baptista [4] é considerada a “Mãe do Balé Afro”, sendo essa a primeira pessoa a desenvolver as danças negras e floclóricas dentro das academias. Depois de estudar nos EUA retornou ao Brasil, resolvendo fazer o mesmo que Katherine Dunham: usar a dança negra em espetáculos, criando assim o “Balé Afro-brasileiro”. Como afirma Nadir Nóbrega, em 1968 (quando as escolas de samba do Rio de Janeiro ainda desfilavam na Cinelândia), Mercedes Baptista transformou as escolas em verdadeiros teatros ambulantes, coreografando as alas das mesmas. Essa inovação proporcionou, na época, uma polêmica nos meios de comunicação. Até pouco tempo, Mercedes ministrava aulas de danças afro-brasileiras na escola de danças clássicas do Teatro Municipal do RJ, atividade desenvolvida desde 1958, e que atualmente devido ao seu estado de saúde, não ministra mais aulas.
Evandro Passos foi aluno da Marlene Silva e Carlinhos Afro, tendo como mestre Marcio Valeriano (falecido) e João Bosco, que tem como Mestre Mamour Ba. A partir desses mestres, hoje se encontram vários profissionais que atuam com a dança afro em Belo Horizonte.  Na trajetória da dança afro em BH temos contribuições importantes como: Marcio Valeriano (in memorian), Evandro Passos (Cia Bataka), João Bosco (Cia Primitiva de Arte Negra), Carlinhos Afro (Carlos Afro & Cia), Marilene Rodrigues (Projeto Querubins/ Acaba Mundo), Rô Fatawa (Aruê das Gerais/São Geraldo), Marilda Cordeiro (Alto Vera Cruz), Júnia Bertolino (Cia Baobá de Arte Africana e Afro-Brasileira), Pantera Inocêncio (Grupo Cuenda), Rosilaine Bragança e Liliane Saldanha (Arautos do Gueto), Flávia Soares (Pedreira Prado Lopes), Anderson Vieira “Sabará” (Odum Orixás), Elaine do Carmo (Centro Cultural São Bernado), Fabiano Camilo (Vozibilidade dos Tambores), Patrícia de Alencar (Primeira Dança/ Projeto Beco), Heloisa Gonçalves (Comunidade Paulo VI), Anderson (Grupo Calango/Comunidade Taquaril), entre outros.
Na verdade, percebe que pela trajetória histórica da dança afro no Brasil é necessário valorizar e reconhecer sua importância na cultura brasileira. O coreógrafa João Bosco acredita que através dos trabalhos desenvolvidos por vários profissionais na capital mineira, e também pelo seu trabalho com Cia Primitiva de Arte Negra, sobretudo com a criação de uma técnica própria para desenvolvimentos da dança afro em Belo Horizonte já é o primeiro passo para sensibilizar a população e o poder público para essa importante prática que tem sido modelo de resistência na cidade. Atualmente é urgente buscar através de seminários, discutirmos as trajetórias da dança afro e as políticas públicas eficazes em sua realização.
            Também a autora Amélia Conrado, acredita que a expressão corporal negra é a marca de uma identidade que sobrevive há anos, resistindo ao extermínio e se reconstituindo a cada movimento. Explica-nos também que pelo fato da dança étnica trazer elementos que são respostas aos preconceitos e discriminações, tentativas de reducionismos contribuem á inferioridade da civilização africana, sendo “necessário uma pedagogia que se re-constroi na afirmação de uma identidade negra que se concretiza através de uma prática de continuidade cultural e religiosa africana na Bahia. Nesse processo de construção, o corpo tem um papel essencial, é uma síntese do retorno à ancestralidade”. (CONRADO:2002:43).  
Amélia defende que a dança étnica consiste na pluralidade e na educação do movimento, valorizando o processo ensino-aprendizagem na convivência com as outras metodologias, e que, sobretudo, “a dança étnica afro-baiana é uma expressão da linguagem da arte negra brasileira, vista na dimensão do sagrado, do lúdico, do político-organizativo, das manifestações populares, do trabalho social e na recriação do sagrado para o didático”. (CONRADO: 2002:43).
O ensino da história e cultura africana e afro-brasileira facilita e ás vezes dificulta o ensinar dança afro, ou seja, facilita a partir do momento que a dança afro é levada  até  ele na  sala  de  aula tendo a oportunidade de conhecer essa manifestação, pois  dependendo da formação, o preconceito enfrentado pela criação dos pais e a aproximação com a  manifestação citada, o educando não escolheria fazer essa dança, porque foi  influenciado por padrões sociais e morais, ás vezes  também pela mídia, a família e opiniões de colegas tais como: “ isto é coisa ruim”, “tudo que envolve tambor é macumba”, etc. chegando ao extremo de se identificar na pessoa a intolerância religiosa, que  aponta qualquer  atividade cultural de matriz africana praticada como algo mundano e do mal.
            Sem dúvida a falta de metodologias e referenciais específicos sobre a dança afro dificulta o trabalho do professor, mas ainda é possível criar referenciais metodológicos próprios. Sinceramente, eu acredito que dificulta, mas, no entanto, existem alguns métodos, muitas vezes não disseminados. Por isto é necessário uma pesquisa e busca por estes valores.  Agora o importante é saber que os referenciais metodológicos da dança afro são diferenciados, já que a  cultura  é  pautada  na oralidade, memória e ancestralidade, tendo assim um método de observação, repetição, escuta e hierarquia, cultivados. Lembrando que os nossos avôs transmitiam para nós seus ensinamentos por exemplos, a partir de contação de história e cantigas. É bom lembrar-se dos nossos mestres populares, muitos em grande parte não tiveram acesso ao ensino formal, mas criaram métodos não formais de aprendizagem e ensinamento. Cabendo ao educador o desafio de criar metodologias, utilizando a socialização da roda, a circularização e a ritualidade da festa como revigoramento das forças, trabalhadas na formação e enriquecimento da identidade e ancestralidade.
É oportuna atividade que trabalhe as manifestações culturais nas escolas e outros espaços de formação (projetos sociais, centros culturais, associações e instituições), pois os afro-descendentes e os diversos educadores estão preocupados e atentos também à discussão que envolve a Lei 10.639/03, que estabelece a obrigatoriedade do ensino da história da África e da cultura afro-brasileira nas escolas, pois acreditam ser uma boa oportunidade para o ensinamento e divulgação das manifestações culturais, além de possibilitar também parcerias. E ainda esse trabalho de reconhecimento e valorização da dança afro é um convite para que  todos façam uma séria reflexões sobre a importância do bem imaterial no país, apontando políticas públicas eficazes capazes de contribuir para manutenção desta tradição.


SAIBA MAIS SOBRE A DANÇA AFRO
OLIVEIRA, Nadir Nóbrega. Dança afro: Sincretismo de movimentos. Salvador: UFBA, 1991.
SANTOS, Inaicyra Falção dos. Corpo e Ancestralidade: dança, arte e educação. Salvador: UFBA, 2002.
CONRADO, Amélia Vitória de Souza. Dança étnica afro-baiana: educação, arte e movimento. 1996.197, f. Dissertação de mestrado – PPGE/UFBA, Salvador, 1996.
CONRADO, Amélia. Dança Étnica Afro-Baiana: Educação, arte e movimento. (P. 17 a 46.). In: Imagens Negras: ancestralidade, diversidade e educação./Organizado por: Maria de Lourdes Siqueira. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2006.

PUBLICAÇÕES RECENTES:

SILVA, Júnia Bertolina. O Congado na Comunidade dos Arturos: Catolicismo ou Culto Africano? Monografia para obtenção de bacharel no curso Ciências Sociais: Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, 2002.

 Fanzine – Diversidade Cultural– Rede de Agentes Culturais – (texto e produção) – Centro Cultural da UFMG – Março/2003.
Heranças do Tempo, Fundação Municipal de Cultura/2006 Textos: Capoeira Angola no Brasil e em Belo Horizonte Samba de Roda em Belo Horizonte.
Revista Roda – III FAN – Festival de Arte Negra/2006 Matéria: A Rainha Bela (presidente do centro espírita São João Batista e Guarda de Moçambique São João Batista/Bairro Santo André).
Revista Angoleiro é o que Eu Sou. Associação Cultural Eu Sou Angoleiro. Editora: Lutador. Belo Horizonte-MG. Junho de 2006. Textos: Capoeira Angola em Belo Horizonte e Breve Histórico da Dança Afro-Brasileira.
Jornal Irohin / online - em 04/03/2007 www.irohin.org.br – Arturos e o Congado: Símbolos de luta e resistência para o povo mineiro.


[1] Texto apresentado sobre Dança Afro-Brasileira com objetivo de contribuir para valorizar  e  difundir a dança afro, seja para  bailarinos, educadores e pesquisadores da cultura de matriz africana; Também  nos  Centros Culturais, escolas e na comunidade.
[2] Júnia Bertolino é bailarina afro, jornalista e antropóloga, pós - graduada em Estudos Africanos e Afro-brasileiros na PUC-MINAS/2010.  Diretora e coreógrafa da Companhia Baobá  de Dança - Minas. Capoerista da Associação Cultural Eu Sou Angoleiro (Bhte-MG), Corista e dançarina do Coral Agbára – Vozes da África.   
[3] Ver: MOREIRA, Ana Luísa Coelho. Do silêncio ao batuque da dança afro: Considerações sobre a identidade negra. Monografia apresentada ao curso de graduação da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, para requisito parcial  de Psicologia, Belo Horizonte,  2005.
  


[4] OLIVEIRA, Nadir Nóbrega. Dança afro: Sincretismo de movimentos. Salvador: UFBA,1991.