Cia Baobá |
Nas montagens atuais apresentam os espetáculos ‘Corporeidades Negras’ e ‘Mulheres de Baobá’. Dentre as inúmeras atividades, ressalto a parceria com o Palácio das Artes na comemoração do Dia da Consciência Negra, sendo que em 2009 lançou o Prêmio Zumbi de Cultura premiando em 2010 várias personalidades que tem trabalhos relevantes de arte negra na cidade de Belo Horizonte e no Brasil. Já nas comemorações de 315 anos de Zumbi de Palmares o prêmio foi confeccionado pelo artista plástico Jorge dos Anjos e contou com vários grupos e artistas mineiros.
A busca pelo conhecimento africano é fruto da participação ativa da Cia Baobá no cenário artístico de Minas, em discussões de políticas públicas de cultura, em atuações na Associação Cultural Eu Sou Angoleiro, Movimento Cidade Jardim, também no Negraria - Coletivo de Artistas Negros (as) de Belo Horizonte e Coletivo Fórum de Performance Negra - Minas. Portanto, a pesquisa da Cia Baobá de Dança - Minas juntamente com as outras atividades impulsionaram-me na busca de novos conhecimentos na terra da mãe África. Assim, quero aproveitar este excelente espaço da Revista Terreiro Contemporâneo para discutir nossas raízes, cultura e laços identitários entre África e Brasil.
Entendi minha trajetória e porque tinha e esperar à hora certa para conhecer a África. É maravilhosa a riqueza cultural de Mali, Mauritânia, Líbia, Angola, Burkina Faso, Camarões, Guiné Bissau, Etiópia, Congo, Gana, Guiné Equatorial e Konacré, Jamaica, Nigéria, África do Sul e outros. Por isto, quero relatar um pouco da experiência de pisar pela primeira vez na terra africana em Dacar (Senegal) e Guiné Bissau durante os meses de dezembro e janeiro de 2011. Período marcante, pois acontecia o III Festival Mundial das Artes Negras e Culturas Negras. Cito rapidamente sobre a Cia Baobá de Dança - Minas que foi responsável por minha ida até a África, sobretudo a necessidade de mais pesquisa sobre nossa africanidade e estudos desta rica herança que foi reelaborada ou ressignificada nas terras brasileiras.
O III Festival Mundial de Artes Negras e Culturas Negras foi uma oportunidade peculiar de ver a diversidade cultural da África. Eu confesso no primeiro dia que assisti ao espetáculo de dança de Camarões e Guiné Bissau chorei igual criança.
No Senegal o talento e a beleza, seja nas danças, ritmos e músicas com os grupos tradicionais e o Balé do Senegal. E ainda, os músicos, atores e cantores que nasceram na África e estão na Europa divulgando a cultura africana. Os locais histórica como Ilha de Gorée e a cidade de São Luís onde aconteceu o encerramento do festival foram paradas obrigatórias para que estivesse participando do terceiro festival. A participação de artistas brasileiros de renomes como Chico César, Margareth Menezes, Sandra de Sá e Ilê Aiyê, foram motivo de orgulho e alegria para os brasileiros. Além, de intelectuais como Kabengele Munanga, Petronilha Silva, Eliane Borges,Conceição Evaristo e outros participaram das mesas de discussões apresentando a realidade brasileira e seus desafios. Também nos representaram muito bem os artistas e grupos (Mobassa, Cia de Comuns, Será Q, Grupo de Congado de Itabira – Minas Gerais e Balé Folclórico da Bahia) e outros. Januário Garcia mostrou a arte brasileira através da lente com registros fotográficos do povo negro na diáspora e no Brasil. Foram inúmeros shows de artistas que moram nos EUA, Cuba, Inglaterra, Índia, França e Brasil.
Amigos, a nossa história de fato nos foi negada... Estar ali vendo a riqueza de ritmos, corporeidades, vestimentas, pinturas, cabelos, cinema, moda, artes plásticas e literatura. Foi um presente precioso que Oxalá, Lemba e Olorum me deu! Pesquisar mais em Guiné Bissau outro grande presente. O Grupo de mineiros que participaram do Festival Mundial das Artes e Culturas Negras foi organizado por Ibrahima Gaye (Cônsul Honorário do Senegal no Brasil em Belo Horizonte - MG) que contou com Marcos Cardoso, Cida Reis, Celso Moretti, Vinicius Carvalho, Rosangela Vila e Júnia Bertolino, que resolveram custear suas passagens para ir no Fesman 2010 na África. Ao declamar um poema e cantar uma música saudando a Mãe África, falando também da importância da cultura africana na identidade do povo brasileiro no III Festival Mundial de Artes Negras em Dakar (Senegal), tive o reembolso da minha passagem pelo presidente do Senegal Abdoulaye Wade, além de ter minha imagem vinculada na TV do Senegal no dia seguinte cantando declamando a cultura brasileira. Essa oportunidade de reembolso permitiu minha ida até Guiné Bissau onde pude pesquisar mais a cultura africana e dar uma oficina de samba e dança afro-brasileiro a pedido dos guineenses, fazendo assim um intercâmbio Brasil/África. Essa estadia prazerosa em Guiné Bissau conquistou também o convite para Cia Baobá de Dança - Minas animar o carnaval 2011, a partir do secretário do estado Fernando Saldanha e o assessor Antônio Patrocínio que assistiu minha atuação junto ao presidente do Senegal Abdoulaye Wade representando o Brasil no encerramento do Fórum Mundial de Artes Negras em dezembro de 2010.
Aprendizagens de Guiné Bissau!
A questão lingüística é muito importante para cultura e formação do legado da população de qualquer país. Por isto, foi importante a experiência da escuta e aprendizagem da língua natal deste país com desafios nas similaridades e diferenças. Na verdade são ‘Manga di cusas’ (muitas coisas - em criolo) língua falada em Guiné Bissau além do português, aliás, muitos não falam, pois mais de 70% falam criolo. Aqui tem muito peixe! - ‘Bionda di Bissau sabi’ (a comida de Bissau saborosa/ criolo). Odete Semedo defendeu o mestrado em 2010 e lançou um livro lançado que apresenta a cultura guineense, a partir da riqueza da oralidade, ou seja, a narrativa africana. Ainda ressalta os conceitos de ancestralidade e memória, outros saberes e a importância da cultura a partir da narrativa, do canto, ritmo, dança e vestimenta das mulheres Manjuandades que traz nos tecidos a poesia e a contação de história. Sendo que a comunidade ganha à vida com a tecelagem, os panos e a arte das cabaças. Em Guiné os grupos culturais como Balé Nacional de Guiné Bissau, Ubuto, Netos de Bandim e grupo do Teatro do Oprimido contribuíram na minha aprendizagem sobre a riqueza da cultura africana.
Madiagne Diallo (responsável pela delegação brasileira no III Fesman) providenciou as instalações no Senegal e ajudou muito na minha permanência em Senegal após o festival e a viagem para Guiné Bissau, assim como Maria Elisa Teófilo de Luna (embaixadora do Brasil no Senegal).
Guiné Bissau é um país de rica tradição cultural representada em tecidos, pesca, instrumentos musicais, vegetais, músicas, religiosidade, artesanato e danças com várias etnias vivenciando a diversidade cultural africana. Sendo um país de língua portuguesa assim como o Brasil, gostam muito do ritmo samba e da cultura brasileira. Para chegar ao ensaio do Grupo Cultural Netos de Bandim em Guiné Bissau em 2011, contei com contribuição preciosa dos amigos Atcho Express (grande ator) com diversos trabalhos na cidade e Wilson (percussionista do Balé Nacional de Guiné Bissau). O incentivo de artistas da cidade como Dina Adão do espaço Hotel Rubim (local que ocorreu a oficina) e a pesquisadora Odete Semedo, aconteciam um intercâmbio Brasil e África. Participaram quatro integrantes do Grupo Cultural Netos de Bandim, foi um privilégio contar também com a participação de outros artistas que atuam no Balé Nacional de Guiné Bissau e Grupo Ubuto. Mas tarde fui convidada pelos jovens da comunidade de Bandim para assistir o ensaio do grupo. Lá em contato com o coordenador do grupo Ector Diógenes conheci a vasta cultura guineense. Ver maravilhada as crianças e jovens representar e vivenciar a arte negra, em penteados, vestimentas, cantos, ritmos e danças.
O Grupo Cultural Netos de Bandim vem ganhando por seis anos o título de melhor grupo cultural do carnaval guineense. Este grupo apresenta nas ruas de Guiné Bissau as etnias Felupe, Fula, Manjaca e Bijagó. Além de danças como Kampune e Kabaró. Nesta comunidade também encontramos as Mulheres Manjuandades com sua cultura peculiar da Dina (cabaça) tocado dentro de uma bacia com água. Acompanhada com diversos instrumentos como xiquerês, atabaques e as madeiras nas mãos das mulheres que tocam, cantam e revezam na dança. A cultura do Dina abriga uma tradição ancestral. Além dos cantos e tecidos que estão traduzindo a história daquela etnia, valores do povo guineense, apresentando diversidade de ritmos. Essa comunidade é localizada em um bairro chamado Bandim que deu origem ao nome do grupo em Guiné Bissau. Portanto, participar do aprendizagem de Guiné Bissau é enriquecedor para trajetória da Cia Baobá de Dança - Minas, fortalecendo assim os laços identitários Brasil e África.
Júnia Bertolino
Cia Baobá de Dança – Minas
(31) 99176762 ou 3467-6762