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Eros Volúsia (Heros Volúsia Machado- 1914/ 2004) foi uma dançarina brasileira nascida no Rio de Janeiro, aluna de Maria Olenewa na Escola de Bailados do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, hoje Escola Estadual Maria Olenewa. Estreou no Teatro Municipal e pouco depois podia ser considerada a inventora da dança brasileira. As danças místicas dos terreiros, os rituais indígenas, o samba, o frevo, o maxixe, o maracatu e o caboclinho de Pernambuco foram algumas das fontes de pesquisa artística da bailarina. Em uma de suas inúmeras entrevistas dadas à Revista O Cruzeiro, Eros Volúsia sintetizou sua missão artística: "Dei ao Brasil o que o Brasil não tinha, a sua dança clássica!"

PUBLICAÇÕES

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Bom dia a todos!*

Rui Moreira
Antes de tudo celebro a iniciativa de reafirmar os valores deste projeto. Ao observar os movimentos políticos e sociais em torno da cultura no país, observo muitos avanços, mas também muitos pontos cegos ou de invisibilidade.  As discussões no ambito da dança generalizam sua fala para engrossar as petições públicas para que não sejam retirados da cultura recursos para dar continuidade a projetos específicos e também para manutenção dos atuais editais que bem ou mal sustentam parte significativa das cadeias produtivas setorizadas. Isto é um avanço.

Ao mesmo tempo não consigo ficar imune a desconsideração constante aos pontos que discutimos em nossos grupos de estudos específicos ou nos debates em nossas raras possibilidades de encontro. Quando nos encontramos, infelizmente de forma “guetificada”, discutimos situações que nas grandes plenárias não ganham espaço e passam como ponto infimo na ordem das grandes discussões. Cada um de nós, como indivíduos, em sua própria área de atuação, também dedica um tempo muito relativo para ressaltar os pontos que discutimos quando estamos juntos. Em via de regra para sobrevivermos na condição de mestiços sociais, passamos muito tempo nos defendendo e justificando nossas posições políticas mediando nossos deveres e nossos quereres.
Somos impelidos a quase esconder em nome da boa convivência, pontos de vista sobre a negritude da dança no Brasil e no mundo.  Em parte por um desconhecimento de teorias canónicas que proporcionem argumentações radicais confrontantes das já existentes. Temos dificuldade de defender esta dança que produzimos e protagonizamos!
Sentimos-nos melindrados ao avaliarmos a atuação uns dos outros e optamos pelo distanciamento entre nós para que possamos guardar uma antiga postura que garanta ou o exotismo ou a proteção de ser capaz de fazer algo que seja aceito pelos sistemas críticos aos quais somos submetidos e estamos acostumados.
Qual será a atitude que deveremos cultivar para intencionalmente fragmentar as cadeias de poder instauradas? Que recortes radicais possibilitarão uma maior demonstração da importância dos pontos que discutimos? Talvez seja necessário promover até mesmo uma demosntração para nós mesmos... Digo isto por identificar enormes pontos de dúvida entre os protagonistas que discutem a dança negra com muitos receios e parcialidade. Somos dançarinos, criadores, intérpretes; estamos programadores, organizadores de eventos, dirigentes de organismos públicos, governamentais, mas mesmo assim não conseguimos força suficiente para colocar esta expressão no patamar que dizemos querer...
Os jogadores de futebol e atletas em nome de uma ferrenha luta contra o racismo criam arrimos e associações que ativam uma auto-estima capaz de tornar públicas suas posições. Os artistas negros, especialmente os da dança contemporânea, mediam até mesmo suas posiçoes mediante os fatos históricos ou retóricos acontecidos com eles próprios... Especialmente no Brasil estamos buscamos o novo quase sempre atravéz de diálogos com uma estética contemporânea de massa hegemônicamente de culturas brancas eurocêntricas.
Temos dificuldade para assumir outras bases de corpografias para inscrever textos coreográficos que influênciem uma “cena”. Ainda insistimos em agradar os que dizem sim ou não para que os espetáculos sejam apresentados nos poucos eventos mundiais.
Infelizmente poucos destes que tentamos agradar têm sensibilidade ou noção da atuação de pesquisadores, filósofos, cientistas, poetas, escritores, inventores negros ou simplesmente qual a importância histórica de ter homens de pele negra sobre um palco.
E nós? Será que realmente sabemos qual é a cor de nossa pele?
Esta reflexão não é feita de verdades absolutas, mas sim de pontos de vista particulares e serve como provocação/convite para todos desta lista. Na minha forma de pensar, tenho que abrir e compartilhar estas discussões para que tenhamos posições consistentes para amenizarmos a solidão individual que muitas vezes nos acomete.

Aguardo respostas e posições.
Sinceramente.
Rui Moreira – bailarino e coreógrafo**

*Carta escrita como resposta ao convite para fazer parte de mais um grupo de trabalho dentro da dança contemporânea afro-brasileira.
**“ Autorizo a publicação... Confio em vocês e aposto nesta publicação virtual”.