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Eros Volúsia (Heros Volúsia Machado- 1914/ 2004) foi uma dançarina brasileira nascida no Rio de Janeiro, aluna de Maria Olenewa na Escola de Bailados do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, hoje Escola Estadual Maria Olenewa. Estreou no Teatro Municipal e pouco depois podia ser considerada a inventora da dança brasileira. As danças místicas dos terreiros, os rituais indígenas, o samba, o frevo, o maxixe, o maracatu e o caboclinho de Pernambuco foram algumas das fontes de pesquisa artística da bailarina. Em uma de suas inúmeras entrevistas dadas à Revista O Cruzeiro, Eros Volúsia sintetizou sua missão artística: "Dei ao Brasil o que o Brasil não tinha, a sua dança clássica!"

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A Dança Negra

Patrick Acogny
O presente texto representa uma tentativa de definição clara sobre as práticas que englobam diferentes correntes de pensamento de artistas negros africanos e das diásporas.
O que é a Dança Negra? Como distinguir da Dança Africana?
A Dança Negra é toda prática que se inspira seja nas danças locais e patrimoniais originárias diretamente do continente africano, seja nas danças derivadas do continente africano, seja nas danças que encontram uma inspiração mística, espiritual ou do imaginário e saber africano! Não é monopólio do continente, nem dos africanos da África. 
A Dança Negra é o produto de todo artista que possuem uma linha de descendência com a África e que se inspiram materialmente, ou espiritualmente no continente africano. Esta definição se distingue daquela da dança negra americana. A dança negra tal como é definida por nós não é produto unicamente dos negros ou para os negros!

O termo Dança Negra é uma denominação tanto artística quanto política. Ela incita-nos a colocar o aspecto das práticas estéticas para além do continente Africano, na medida em que os povos do Norte são também africanos mas as práticas coreográficas se distinguem das danças sub-saarianas. Ela integra as danças dos descendentes históricos de africanos espalhados pelo mundo, situados geograficamente fora da África. Esses artistas consideram essa ligação com a África como essencial à suas identidades.
O termo Dança Africana carrega um imaginário simbólico pesado que tende a excluir o agrupamento de dançarinos africanos que não trabalham a partir das danças africanas locais e patrimoniais, mas a partir de uma “idéia” dessas danças.
Na Dança Negra se encontra de inúmeras formas distintas: a dança africana contemporânea, que emerge das danças locais ou patrimoniais, a dança contemporânea africana, forma contemporânea que não se focaliza particularmente nas danças locais mas sim em uma dança mais pessoal, chamada também afro-contemporâneo, dança criativa, e todas suas derivações como a jovem dança africana, dança atual africana, dança mestiça, dança criativa, etc. É evidente que as danças patrimoniais africanas estão incluidas na Dança Negra!
O Ocidental pode produzir Danças Negras?
Sim, se ele viveu ou estudou próximo aos africanos ou africanos oriundos da Diáspora e se considera a cultura africana como uma parte de sua identidade!
Como chamar as formas  praticadas por artistas não-africanos?
A Dança Negra está para além das diferenças da cor da pele e se interessa por práticas e pelo diferentes símbolos e imaginários africano!
A Dança Negra é, portanto, uma forma mestiça ou híbrida?
Ela é, por sua natureza intrínseca, pois não existe mais uma forma “pura” ou “autêntica”.
Por que utilizar a expressão Dança Negra e não somente Dança?
A cor de nossa pele nos impõe, por efeito, uma realidade difícil de rejeitar. Todas as questões que se colocam vem dos olhares dos outros sobre nós! O que se vê quando nos olham? O que projetam sobre nós? Como responder a tal olhar que nos a-sujeita e nos priva de nossa primeira dimensão do Ser humano? Este termo é estratégica e não uma definição do que somos. Ao demarcarmos esta denominação, tomamos o poder sobre o olhar do outro, pois assumimos o que somos. Podemos então, desconstruir esta noção de Dança Negra para realizar uma dança universal, uma dança humana que se inscreve nas lacunas diferenciais junto às praticadas em outros lugares. Assumindo também a expressão “Dança Negra”, existe o reconhecimento de um olhar, não o nosso sobre nós mesmos, mas esse do Outro que não vê que nossa cor não é nossa essência, nossa personalidade, nossa alma. Reconhecemos esse olhar pelo que é: uma subtração, uma diminuição do que somos. Pela Dança Negra nós recriaremos as ligações com todas nossas diásporas africanas. Reclamaremos nosso pertencimento ao patrimônio da humanidade! Somos a base desse patrimônio, pois a vida apareceu pela primeira vez na África. Nós reconhecemos essa Dança Negra, rica, variada, complexa e impossível de definir, ela é como a vida, uma dança, um movimento que se inscreve além dos olhares em uma humanidade e uma história. A Dança Negra, incontestável mãe de todas as danças, ela é a dança! É nosso papel relembrarmos o mundo inteiro!

Por Patrick Acogny