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Eros Volúsia (Heros Volúsia Machado- 1914/ 2004) foi uma dançarina brasileira nascida no Rio de Janeiro, aluna de Maria Olenewa na Escola de Bailados do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, hoje Escola Estadual Maria Olenewa. Estreou no Teatro Municipal e pouco depois podia ser considerada a inventora da dança brasileira. As danças místicas dos terreiros, os rituais indígenas, o samba, o frevo, o maxixe, o maracatu e o caboclinho de Pernambuco foram algumas das fontes de pesquisa artística da bailarina. Em uma de suas inúmeras entrevistas dadas à Revista O Cruzeiro, Eros Volúsia sintetizou sua missão artística: "Dei ao Brasil o que o Brasil não tinha, a sua dança clássica!"

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Cidadania Negra

Muito se tem falado dos avanços e da melhoria das condições em que vive hoje a comunidade negra brasileira, no que se refere à melhoria da qualidade de vida, na educação, na moradia, no transporte coletivo, na segurança, no emprego, nas oportunidades no meio artístico, das artes plásticas, na literatura, no cinema e na televisão, nos cargos de primeiro escalão: das grandes empresas, da política partidária, do judiciário, dos gestores públicos etc. etc.  
  
Talvez estes observadores tenham suas visões restritas aos meios aos quais frequentam ou  exerçam suas militâncias profissionais, ou, ainda, os seus casos de ascensão pessoal não são parâmetros para uma análise verdadeira, pois “não é bem assim que a banda toca”.
Quando há qualquer referência à população negra, subentende-se que se trata da maioria, como em qualquer lógica, e não da minoria, onde apenas alguns, por talento, por muito trabalho, ou por perseverança, conseguiram alcançar o status quo de transitarem nas esferas da sociedade capitalista, política, acadêmica, cultural e social. 
O grande fato é que o povo negro brasileiro, sem os paliativos de serem moreninhos, mulatos, pardos ou outra denominação que queiram atribuir, encontra-se nas mesmas condições, ou piores, desde 1888, quando da edição da Lei Dantas Saraiva que “libertou do jugo do cativeiro” nossos ancestrais.
Se olharmos para a África e quisermos enxergar, veremos uma grande parte desse território totalmente depenado, vilipendiado das suas riquezas minerais pelos piratas europeus do passado, e em ruínas culturais e religiosas pelos contemporâneos neorrenas, inclusive o Brasil com a imposição das telenovelas globais, das religiões neopentecostais e pelas empresas que lá atuam e reproduzem a política salarial daqui, estes dando o tiro de misericórdia no pouco que ainda resta: as suas culturas (usos e costumes) e suas religiões. Quanto à pobreza, à fome, ao analfabetismo, e à AIDS, aí os capitalistas ocidentais afirmam: “eles têm suas soberanias como nações”.   
O grande fato é que tanto a maioria dos negros do Brasil e a maioria dos negros de grande parte da África encontram-se em situações análogas, os daqui à margem das políticas públicas e da inclusão social, os de lá desprezados pela solidariedade mundial.  
Hoje, grande parte de intelectuais e de políticos brasileiros afrodescendentes discute a inclusão por cima, daqueles privilegiados que estão vencendo a inglória batalha pela educação formal, e pela aprovação do Estatuto da Igualdade Racial. Nos dois casos, também estou plenamente favorável como bandeira de luta, mas não como prioritárias. Prioridade é erradicar o analfabetismo e a fome em que está submetida a maioria da população negra; prioridade é ter a questão negra perpassada em todos os projetos de governo, e não ser tutelada. Eu não quero ser igual. Quero ter o direito de ser diferente, quero cidadania e respeito. Quero ter o direito de usufruir os “direitos da cidadania” e não somente os deveres.
E os milhões de negros e negras que ficaram para trás? 
                                                                                                                                                  
João Batista