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Eros Volúsia (Heros Volúsia Machado- 1914/ 2004) foi uma dançarina brasileira nascida no Rio de Janeiro, aluna de Maria Olenewa na Escola de Bailados do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, hoje Escola Estadual Maria Olenewa. Estreou no Teatro Municipal e pouco depois podia ser considerada a inventora da dança brasileira. As danças místicas dos terreiros, os rituais indígenas, o samba, o frevo, o maxixe, o maracatu e o caboclinho de Pernambuco foram algumas das fontes de pesquisa artística da bailarina. Em uma de suas inúmeras entrevistas dadas à Revista O Cruzeiro, Eros Volúsia sintetizou sua missão artística: "Dei ao Brasil o que o Brasil não tinha, a sua dança clássica!"

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Negros e famílias negras nas telenovelas – Mudanças e Desafios




Este artigo busca fazer uma reflexão acerca da participação de atores negros e da elaboração dos personagens por parte da teledramaturgia brasileira através das novelas da Rede Globo de Televisão, maior produtora deste estilo. O enfoque escolhido é a família negra, ou a ausência dela na formação dos papéis oferecidos aos atores negros. 

No início do século XX, na Europa ocidental, surge a “Dança Contemporânea”, baseada na busca da essência expressiva do homem. Na América, Isadora Duncan (1877-1927) renova o movimento que valoriza os fenômenos naturais, se sobrepondo à utilização de qualquer cenário. Na Europa, Rodolf Laban (1878-1958) interessa-se pelo movimento e pelo corpo em geral. Seu trabalho originou o alastramento da dança a várias dimensões: terapia, educação e lazer.
   A conquista da independência por vários países africanos e por colônias notoriamente diaspóricas africanas, aliada a uma revisão material provocada pelos movimentos abolicionistas e mais tarde pelas guerras mundiais, entre outros motivos, levam a população Negra do mundo inteiro a acirrar sua luta por conquista de espaços sociais em todas as áreas de atuação, inclusive na dança cênica dramática.
   A partir daí encontraremos, especialmente no Caribe e na América do Norte, artistas e danças que, mesmo permeadas por pensamentos e métodos europeus, vão incorporar em seus discursos cênicos movimentos e estéticas encontradas em danças africanas. Obras coreográficas foram desenvolvidas por criadores negros para a expressão corporal e espiritual de artistas negros. Desta maneira, estas obras foram incorporadas à narrativa histórica da arte de dançar, dentro do seleto e significativo guarda-chuva das danças modernas.
  Algumas danças do novo mundo se originaram de ritmos musicais negros e foram metodizadas tecnicamente e ensinadas a um grande público: o jazz, o sapateado americano, a salsa, a rumba, o samba, o tango, o conjunto de danças sociais norte americanas que acabam compondo o variado repertório das Danças de Rua - “Street dance” - que permeiam muitas danças contemporâneas. Alguns pensadores, educadores e criadores tiveram publicados em livros ou artigos os pensamentos e técnicas estudadas e desenvolvidas por eles.  Katherine Dunham, Alvin Ailey, Pérola Primus e Germaine Acogny por exemplo, através destes tratados, estabeleceram diálogos com técnicas ocidentais de dança moderna e estruturam referências e caminhos de diálogo cênico para artistas negros ou interessados pelas matrizes africanas contidas em seu próprio corpo. 
    Em maio de 2007 aconteceu o Encontro – África e Diásporas em Toubab Dialaw - Senegal, organizado pela Associação JANT-BI sob a direção Artística de Germaine Acogny no Centro Internacional em Danças Tradicionais e Contemporâneas da África "L'Ecole des Sables". O objetivo deste Encontro foi reunir coreógrafos, músicos e investigadores da África e suas Diásporas para criar novas relações com base na dança e na música. Estiveram reunidos por 15 dias, bailarinos, coreógrafos, educadores especialistas em dança e música, programadores de eventos de dança, críticos de arte, músicos e jornalistas. Países africanos e diaspóricos representados neste encontro: Nigéria, Senegal, República Democrática do Congo, Congo Brazzavile, Madagascar, Benin, Togo, Zimbabwe, África do Sul, Tchad, Camarões, Ethiopia, Costa do Marfim, Burkina Faso, Brasil, Haiti, Peru, Barbados, Guadalupe, USA, França e Inglaterra. Naquela ocasião, Patrick Acogny, coreógrafo, filho de Germaine Acogny, pesquisador vinculado à Universidade Paris 8 e membro do laboratório etnocenologia de la Maison des Sciences de l'Homme de Paris Nord citou o termo Dança Negra como sendo o ponto conceitual que amalgamou aquele encontro.
   O Brasil cita suas Danças Negras a partir do prefixo Afro. Inspiradas na história de sua descendência Africana as danças afrobrasileiras por princípio remontam uma cosmogonia a partir de valores espirituais que refletem uma corporeidade que é transmitida de geração em geração. De forma ritualizada, normalmente embalada pela percussão, esta dança remete os corpos a uma relação com o continente africano, seja por memória ancestral ou por impulso mimético. Existe uma grande quantidade de danças afro-brasileiras ligadas a rituais e festas – leiam-se manifestações populares coletivas. Divinas ou profanas estas danças são um dos eixos da formação cultural do país e delas derivam danças que acompanham vários ritmos populares.
    Mesmo fazendo parte da urbanidade, estas danças ocupam as periferias ou os ambientes rurais. O aprendizado e a apropriação artística neste caso demandam uma imersão que produz, além da coordenação motora, um sentimento de respeito aos signos deste legado. Algumas personalidades nacionais fizeram esta dança afrobrasileira ocupar os palcos com muita competência. Mercedes Batista, Marlene Silva, Charles Nelson formam uma sequência de nomes que desenvolveram uma corporeidade específica e fizeram discípulos que seguem seus pensamentos estéticos.
   Mas não é só esta a dança Negra que é concebida no contexto brasileiro ao longo dos anos. A arte universal e o pensamento político e estético de artistas negros como Ismael Ivo, Luis de Abreu, Rui Moreira, Cristina Moura, Ricardo de Paula, Rubens Barbot, Regina Advento, Zebrinha, Carlos Dimitri, Armando Duarte, Marquinhos (Balé de Rua de Uberlândia), Elísio Pitta, João Carlos Ramos, Carmem Luz, entre outros, espalha pelo mundo marcas de uma cultura. Naturalmente permeados pelos locais onde estão sediados e pelos processos de aculturamento, no discurso gestual destes patrimônios nacionais, reconhecemos um claro sotaque da terra mãe.
    O país tem um longo caminho a percorrer para realmente se apropriar de sua trajetória. Mobilizações sociais para apreciação e reflexão da arte contribuem para o fomento do pensar e do fazer artístico, e reforçam o papel da Cultura como uma potente ferramenta de Educação. Avalio que fomentar esta discussão no universo das artes é de extrema importância e necessária para ampliar os limites das expressões da contemporaneidade neste Brasil pós-colonial e pós-escravagista (...). Afinal não existe história sem arte.

Bibliografia
SASPORTES, J. (1983) - Pensar a Dança, a reflexão estética de Mallarmé a Cocteau.
Colecção arte e artistas. Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa
Acogny, Germaine (1994) – Danse Africaine Afrikanischer Tanz African Dance – Editora Kunstverlag Weingarten
Martins, Leda Maria (1997) – Afrografias da Memória – Editora Perspectiva, Mazza Edições Gilroy, Paul (2001) - O Atlântico Negro - Editora 34
Hall, Stuart (2003) - A identidade cultural na pos-modernidade - Editora DP&A
Munanga, Kabengele e Gomes, Nilma Lino (2006) – O Negro no Brasil de Hoje – editora Global.

Por Rui Moreira - BH 
Bailarino, Coreógrafo, Diretor  e produtor da  Cia. SeráQ. Companhia de Dança (1993) e do FAN - Festival Internacional de Arte Negra, promovido pela Prefeitura de Belo Horizonte.