Quem é Samir Hassan? ...bem é uma mistura danada e por tanto muito difícil definir este “amigão” da Companhia Rubens Barbot, mesmo ele não estando no país quando nasceu a idéia, nem quando nasceu a Companhia, nem quando fez a primeira estréia e nunca viu um espetáculo do seu repertório total.
Esse “louco” é professor de matemática e como tal professor de filosofia, é uma mistura de Vila Isabel, Londres, ocupações, jardineiro, marceneiro da mais fina estirpe, artesão, cheff (sempre diz que ia escrever um livro de receitas contando histórias sobre cada ocasião que originou cada criação culinária), aventureiro, dono de restaurantes, escritor de roteiros de cinema, diretor de festivais, ativista social, conhece muito de vinhos, atravessou os Estados Unidos de leste ao oeste de carro com toda a família, nesse ambiente educou e criou seus filhos, antiracista convicto, lutador por direitos humanos, sempre marginal, idealista, movido pela paixão e dentre várias outras, produtor, de eventos de shows... foi justamente seu lado produtor que nos juntou. Num final de tarde de uma sexta-feira do mês de Julho de 1989, após a primeira exibição do vídeo com uma gravação integral do espetáculo ‘Só, Um Homem Só’, criação de 1987 de Rubens Barbot e com minha direção, programado pela jornalista Sandra Almada, na sede do Instituo de Pesquisa de Culturas negras – I.P.C.N, ali, entre aplausos e pessoas surpreendidas e assombradas pela diferença e ousadia veio ao nosso encontro e perguntou: “Vocês tem produtor aqui no Rio?” Ao responder: Não, estamos chegando, é o primeiro contato com a cidade ... – ele me interrompeu e dizendo: “Ok! Quero ser o produtor de vocês, meu nome é Samir Hassan”.
Estava feito ali o contato que nunca desligou. No mês de Setembro do mesmo ano fazíamos as duas primeiras apresentações de Rubens Barbot, no Teatro João Caetano, em território carioca. Um ano e três meses depois nascia a Companhia, mas Samir estava em Londres, tinha acabado de voltar para buscar a família pois ele tinha partido sozinho em Dezembro me dizendo por telefone:
“Gatto, vou embora. Esse filho da puta não vai mandar em mim nem na minha família!”
(Fernando Collor assumiria o poder 10 dias depois).
Gatto Larsen
Silêncio
Eu venho de outro silêncio
O silêncio barulhento
Que esconde a tristeza
Eu venho de outra noite
Mal iluminada
Dos bares
De garçonetes afogadas
De amor e cicatrizes
Eu venho de uma montanha baixa
Sem neve
Nem grandiosas alturas
Só uma chateação diária
De escalar
Ou contornar a esperança
De cheiros invisíveis
Vindos do mar
Lugares inatingíveis
Do meu coração
Medo de acordar
Apavorado pela eternidade
Pronto pra viver
Na mortezinha diária
Eu venho dessa terra perdida
De línguas estranhas
Memórias estranhas
De vidas passadas
E caminho o planeta sem fazer sentido
Sem destino
Ou destino
Caminhando apenas
Através da tristeza
Através da beleza
Sem notar que ainda espero
Cansado demais
Pra mudar os ventos.
Samir Hassan