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Eros Volúsia (Heros Volúsia Machado- 1914/ 2004) foi uma dançarina brasileira nascida no Rio de Janeiro, aluna de Maria Olenewa na Escola de Bailados do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, hoje Escola Estadual Maria Olenewa. Estreou no Teatro Municipal e pouco depois podia ser considerada a inventora da dança brasileira. As danças místicas dos terreiros, os rituais indígenas, o samba, o frevo, o maxixe, o maracatu e o caboclinho de Pernambuco foram algumas das fontes de pesquisa artística da bailarina. Em uma de suas inúmeras entrevistas dadas à Revista O Cruzeiro, Eros Volúsia sintetizou sua missão artística: "Dei ao Brasil o que o Brasil não tinha, a sua dança clássica!"

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Descobrindo a Dança em Moçambique!

Após 19 horas de viagem chego a Moçambique pela segunda vez. A primeira foi em maio de 2010 e, sinceramente foi uma experiência fantástica. Pisar pela primeira vez no continente de origem dos nossos ancestrais foi como voltar ao passado, como (re)ligar... (re)conectar... (re)pensar. Na verdade, naquele instante, cheguei a Moçambique acreditando que voltaria á uma África imaginada, do passado e não atualizada. Ledo engano!
Depois do choque da primeira viagem que, entre outras coisas, desconstruiu o olhar mitificado que eu tinha sobre a África, retornar á esse país significava estar disposto á entender melhor a cultura e os costumes dessa sociedade.


Minha ida não teve como objetivo a dança, fui por que o INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia, órgão onde trabalho, estava participando de um projeto trilateral Brasil/Alemanha/Moçambique para o fortalecimento técnico e institucional do Instituto Nacional de Normalização e Qualidade – INNOQ, um órgão de trabalho similar ao INMETRO. Nessa cooperação minha missão era, como especialista, dar continuidade ao Projeto de Comunicação Interna e Externa daquele instituto.
           Com uma árdua semana de trabalho, com média de10 horas por dia composto de muitas reuniões, entrevistas e conversas, consegui na saída para almoçar direcionar olhar para um grande cartaz que convidava as pessoas para a KINANI - 4ª Plataforma Internacional de Dança Contemporânea. Logo disso, sim ao convite, indo ver dança contemporânea!
           Descobri que o termo Kinani significava dançando no idioma Xai. Assim, da surpresa inicial à curiosidade, rapidamente me programei para, pelo menos, um dia poder assistir a um dos espetáculos, pois eles estavam acontecendo justamente todos os dias daquela semana, ou seja, de 01 a 06 de novembro. Ou seja, tratava-se de um convite irrecusável para um coreógrafo e bailarino!
           Assim sendo, justamente em função de ser coreógrafo e bailarino, assistir somente não seria o suficiente e, tendo como amigo de trabalho um publicitário que havia levado sua câmera para registrar todo desenvolvimento do Projeto, resolvi pedi-lo para também entrevistar alguém do 4ª Plataforma para entender melhor o porquê de um festival de dança contemporânea e não de dança afro ou tribal, ou seja, que nome possa denominar esse tipo de dança.
Após meia hora de conversas e apresentações, conseguimos uma entrevista com o diretor artístico da Plataforma, o Sr. Kito Temba, que nos esclarece ter o evento o objetivo principal de formar platéia para a dança em Maputo, capital de Moçambique, bem como, estimular a formação de bailarinos e o surgimento de novos coreógrafos em dança contemporânea no país.
As edições da Plataforma são bienais, esclarece o Sr. Kito Temba, onde tem havido um crescimento na participação do público e também das companhias estrangeiras convidadas. Já na 4ª edição, o evento contou com a participação de 22 companhias de 11 países, composto de 32 espetáculos para serem apresentados, durante os seis dias de evento, em quatro diferentes locais de Maputo. Participaram nessa edição países como Senegal, Espanha, Madagascar, Áustria, Tunísia, Ilha da Reunião, Japão, África do Sul, Alemanha, País Basco, Moçambique e Israel.
           Sendo a única Plataforma de Dança da região, prossegue senhor Temba, o evento acaba gerando uma grande expectativa, pois serve de vitrine para curadores de diversos países e também porque há uma série de atividades paralelas ocorrendo durante a semana, como: palestras, debates, cursos, encontros e, principalmente, aprendizagem.
Um dos aspectos que me chamou muita atenção, e que gostaria de destacar é a forma com que eles selecionam os jovens coreógrafos. No início do ano em que ocorrerá a Plataforma, é realizada uma seleção, através de apresentações dos jovens que durante oito meses receberão apoio para desenvolverem seus trabalhos e assim participarem apresentando sua criação no festival. Esse apoio não se resume apenas a recursos financeiros, mas, e principalmente, cursos de direção, iluminação, cenografia, figurino, entre outros, para que possam desenvolver um bom trabalho.
           Como não podia assistir todos os dias espetáculos, consegui me organizar para ver os do segundo dia - 02 de novembro, uma quarta-feira, no Teatro Avenida. Ah! Esse teatro fica localizado no térreo do prédio onde estão as instalações provisórias do Instituto onde estava trabalhando. Coincidência? Acho que não! Acredito mais em destino.

Assisti ao solo “Persona”, de Raquel Gualtero, da Espanha, e dois trabalhos dos novos coreógrafos moçambicanos: “A Guerra dos Espíritos”, do Projeto Phiri, e “Not Enough”, do Projeto Auto-preconceito. 1
Como não estava lá como crítico de dança, mas como expectador, digo que gostei de algumas coisas que vi e tenho dúvidas sobre muitas outras. Mas, o mais importante, foi ver a dança na África com outro olhar. Um olhar menos folclorizado, sem reproduzir o mesmo olhar que membros de outros países lançam sobre nós, brasileiros. ‘Só danço samba! Só danço samba!’.
         
Esse encontro com a atual dança moçambicana me fez confirmar o que venho buscando hoje: uma pesquisa de Dança Negra. Estando como coreógrafo e bailarino na Cia. Rubens Barbot Teatro de Dança, apoiado por Gatto Larsen e Rubens Barbot, tenho tido a oportunidade de experimentar minha linguagem corporal afrodescendente, somada a uma formação contemporânea, sem medo.
           Após os espetáculos, O Reino de Outro Mundo ORIXÁS (2008) onde fizemos uma Iansã dançar com música eletrônica, e no 40 + 20 (2010) pusemos cinco clóvis para dançar, estamos agora criando Tempo, com a música Number Nine do grupo os Beatles, onde mais negro e contemporâneo impossível!
           Obrigado Moçambique por me atualizar com suas danças!

Nota:
1 Realese dos espetáculos, segundo o programa distribuído:
Persona
Este espetáculo expressa a nossa vulnerabilidade enquanto seres humanos, no sentido de dependermos da existência e necessidade do “outro”. Persona (do grego personae, trad.“máscara”) levanta a seguinte questão: quanto somos donos de nós próprios? Quanto somos influenciados pelo nosso contexto e até que ponto o questionamos?
Coreografia e Interpretação RAQUEL GUALTERO | Música Original MARC TEITLER | Vídeo ALBERT BATALLER & FERRAN GASSIOT | Duração: 40 min
A Guerra dos Espíritos
Celebra-se nossa ligação à Terra, nossos ancestrais, na sua força de convivência no quotidiano - tumbuluko - perante o desassossego da presença do conflito entre Espíritos, na luta por uma vida que combine o quotidiano com o surpreendente, os dias de rotina com a transcendência dos nossos Espíritos.
Coreografia e Interpretação DAWANIVÉRIA PENSAR & ABACAR MULIMA | Iluminação HERMÍNIO RICARDO | Duração: 30 min
Not Enough
Sou estranha para mim, serei auto-preconceituosa? Sou uma mulher que muita gente vê. Mas que sensação é essa de insuficiência de mim mesma? É um risco querer tudo tão regrado, querer atingir o inatingível; andamos em círculos sem nunca sair do mesmo ponto.
Coreografia e Interpretação ROSA MÁRIO & EDNA JAIME | Iluminação NICOLAS HENRY | Vídeo DANNY WANGA | Duração: 40 min

Luiz Monteiro