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Eros Volúsia (Heros Volúsia Machado- 1914/ 2004) foi uma dançarina brasileira nascida no Rio de Janeiro, aluna de Maria Olenewa na Escola de Bailados do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, hoje Escola Estadual Maria Olenewa. Estreou no Teatro Municipal e pouco depois podia ser considerada a inventora da dança brasileira. As danças místicas dos terreiros, os rituais indígenas, o samba, o frevo, o maxixe, o maracatu e o caboclinho de Pernambuco foram algumas das fontes de pesquisa artística da bailarina. Em uma de suas inúmeras entrevistas dadas à Revista O Cruzeiro, Eros Volúsia sintetizou sua missão artística: "Dei ao Brasil o que o Brasil não tinha, a sua dança clássica!"

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DANÇOLOGIA NEGRA CARIOCA: Cia. Rubens Barbot Teatro de Dança 21 anos


RESUMO
O artigo dançologia negra carioca apresenta, de modo breve, a trajetória do primeiro grupo de dança contemporânea afro-brasileira do país, a Cia. Rubens Barbot Teatro de Dança fundada em 1990 na cidade do Rio de Janeiro pelos artistas, o gaúcho Rubens Barbot e o argentino Gatto Larsen. Com 21 anos de fundação ininterruptos, o grupo estende seu campo de atuação percorrendo da tradicional criação coreográfica para espetáculos, passando por performances de rua e eventos diversos em arte. Além de filmes, documentários e atualmente produzindo projetos de conexão artístico nacional, 'Terreiro Contemporâneo e Cias' e o blog Revista Terreiro Contemporâneo. Estes artistas demonstram assim, que mesmo sem apoio financeiro fixo institucional, são representantes de um fundamental fragmento arquitetural da produção cultural e histórica da dança negra brasileira.


Palavra-chave: 1. Dança Afro – Cultura - Brasil. 2. Dança Afrocontemporânea – História – Rio de Janeiro.  3. Dançologia – Cia. Rubens Barbot Teatro de Dança.  

INTRODUÇÃO

Cansados do papel insosso dado á dança cênica profissional brasileira, principalmente a produção em voga na cena carioca ¹, de perfil fortemente elitista no inicio da década de 1990, os artistas Rubens Barbot e Gatto Larsen, irão fundar um projeto artístico que modo diferencial refletisse o homem de seu tempo. Um tempo de acontecimentos como a ‘Guerra Fria’, a ‘Queda do muro de Berlim’, a ‘Extinção da União Soviética’ e a ‘Globalização da Economia’ provocam alterações e mal estar no mundo em ritmo acelerado, sem apresentar um núcleo responsável ou sistema aparente definido.
Assim sendo, em 20 de agosto de 1990, nasce o primeiro grupo de dança contemporânea afro-brasileiro² do país, a Rubens Barbot Teatro de Dança, intimamente atrelada ao desejo manifesto de dar asas ao ‘gesto honesto’, trazendo à boca de cena o negro e seu universo sócio-cultural.
Estamos cansados de ver o papel que está sendo dado á dança. Parece que pensam que a condição da dança é etérea, bela (no sentido ‘lindo’ da palavra) e boba. Não podemos ignorar o meio onde criamos os movimentos dos homens de hoje, o caos deste final de século onde a poesia está na busca de dignidade (tão perdida na sujeira que nos rodeia), no amor escasso (...) É no meio de tudo isso, que procuramos um gesto honesto capaz de ser o elo de comunicação com o homem atual. Que remeta ao seu passado se for o caso, ativando sua memória corporal, mas que de uma forma ou outra, o atinja, o motive e possamos estabelecer uma comunicação. (...) Estamos convencidos que, o que realmente une o homem ao seu antepassado são os gestos. A experimentação a procura do movimento do homem e seu gesto, sejam no trabalho, no amor, na dança, e necessidade de uma imagem atual, orientam o nosso projeto coreográfico. Por sobre tudo, um gesto honesto. ³
Ao longo de mais de duas décadas de existência, a companhia através de suas diferentes atuações artísticas em: teatro, dança, cinema e performance, ‘desorganiza’ a ainda rígida cena da dança brasileira, principalmente a carioca, composta densamente de uma classe média de formação mimética escolástica européia. Deste modo, Barbot de modo singular, apoiado por Larsen, apresentando uma estética coreográfica apoiada numa corporalidade e simbolismos que se retro alimentam nas dimensões do sagrado e profano popular, irão notabilizar-se para além da margem, apoiados numa filosofia de arte manifesta ‘Por um gesto honesto’.
Por inspiração, principalmente as heranças culturais da África fortemente inscritas no fazer, viver e pensar em ação povo brasileiro, representante de um manancial gestual, móvel e imagética corporal, que naturalmente irão valorizar a potente energia cultural e artística negra nacional. Sob essa base fundante serão desenvolvidas as construções coreográficas e perfomances, refletindo dos mais diferentes modos a face marginal geografia cultural urbana carioca.
Uma coletânea de imagens que não contam necessariamente uma história. É o resultado da nossa observação, da cidade [Rio de Janeiro] e das pessoas, da relação que os que vivem aqui estabelecem com a cidade e entre si. 4
Para o antropólogo Júlio C. Tavares, as criações apresentadas pela companhia afirmam positivamente a memória corporal do negro afro-brasileiro em estética e temática, acionadas por e em ações que subvertem a condição deste corpo de falante em pensante, fazendo do gesto comum diário um movimento intensamente expressivo, arquiteturando assim, de modo decisivo, um embate contra o bestialismo colonial na dança vigente. E prossegue:
‘(...) [O] projeto coreográfico é profundamente audacioso, pois é de natureza cognitiva quando empreende, no país do racismo cordial, um questionamento ao corpo colonizado e ao espaço da dança como lugares da hegemonia racial. Reside aí o ponto mais audacioso do seu projeto, que é pensar os corpos afro-brasileiros e as posturas bestializadas pelo colonialismo cognitivo através da arte do movimento e da estética da dança. Ao invadir o palco, Barbot silenciosamente promove um ataque contra-hegemônico no plano cultural (como o dos rappers na indústria fonográfica [americana]). Ele ocupa um dos lugares sacralizados pelos apelos às imagens ególatras e narcíseas do corpo branco, colonialista e racista na sua permanente negação ao corpo negro. ’ 5
Como protagonistas não irão fortalecer uma visão diminuta inerte da cultura de heranças africanas, mas, contudo refleti-la á luz da atualidade tecnológica ainda tão excludente e escravizante do homem contemporâneo em dimensão global. Iremos perceber como traço forte identitário das inspirações do coreógrafo Rubens Barbot, uma espécie de etnógrafo da corporalidade social, em busca do gesto próprio, bem como, Larsen, de uma composição imagética que reflita o meio contraditório que se apóia o chão que se apresenta a dança na atualidade.
Barbot quebra o jogo da cultura e afasta os fantasmas das raízes reivindicando a ‘farofa’, o amálgama de outras culturas e gestos contemporâneos; É a geração do positivo, inventando uma dança afro internacional ácida. E une o batuque ao jogo da ‘bagunça’, construindo um grande espetáculo. 6
A companhia, detentora de uma linguagem singular, admirada por uns e rejeitada por outros, sem deixar de refletir que aceitação unânime pode mobilizar o fazer e desfazer, eles continuam superando as dificuldades de viver da arte no Brasil, mobilizando-se ainda pelo corpo em movimento, imagético e também textual, descolonizando o meio sócio-cultural, não somente pela e através da dança, mas na arte brasileira como um todo.

Num breve olhar panorâmico sobre a cronologia de suas diferentes criações em arte, pode-se perceber as desconstruções estéticas impressas até em seus títulos como: ‘EletronicZumbi’ (1995) ; ‘Em pleno meio dia de nossa noite’ (1997)7; Dança Naná’ (1993)8 e ‘Suspeito Silêncio’ e ‘Só um homem só’ (1990), citando as construção da primeira década de fundação, que conjuntamente os fizeram alcançar o reconhecimento profissional nacional e internacional. Já na segunda década, temos conjuntamente com os espetáculos, performances que também irão refletir sua identidade artística ‘ácida’: ‘Imagens’ (1999); ‘Tempo de Espera’ (2001); ‘Esse amor que nos consome’ (2002); ‘Cenas que recortei e guardei no bolso da memória ou lembranças que chegaram com o baile perfumado’ (2002); ‘Festa Sankofa’ (2002); ‘Mama África’ (2004); ‘ O Reino de Outro Mundo – Orixás’ (2008); Quase uma história’(2006); Performances: ‘Máscaras negras’; ‘Iaô’; ‘Você é um canalha’; ‘Sucesso nas Ruas’(2005); ‘Solos em companhia’ (2010).

Na criação de um documentário sobre o grupo é estampada a ousadia – ‘Desorganizadores de Fichário’ (2007); na co-criação de um curta – ‘Ensaio de Cinema’ (2009), de um longa em processo ‘Esse amor que nos consome’. Como criação de um projeto de conexão entre companhias de diferentes estados ‘Terreiro Contemporâneo e Cias’ (2011), entre outras.
Por fim, com o “último” projeto, ainda confirmam notoriedade artística voltando atenção sobre o próprio fazer, revendo as próprias memórias para comemorar os 40 anos de carreira de Barbot e os 20 anos de existência do grupo, (re)inventando a si mesmos - ‘40+20’ (2010)¹°. E atestam que:
‘Esses longos e prazerosos [21] anos, tidos como extensos quando se trata da sobrevida de uma companhia de dança, ainda mais uma companhia assumidamente off, são resultantes de várias obras de sucesso, passagens por vários lugares do Brasil e do mundo, muito trabalho social, aplausos de críticos internacionais e nacionais, salvo alguns poucos antagônicos, que com desprezo, problematizam nossa pesquisa e a denominam somente “pesquisa desorganizada” desconhecendo o movimento simbólico do eterno desorganizar para o se organizar de novo, como se no Brasil não vivêssemos também essa odisséia insana.’ ¹¹
Por isso finalizo este artigo desejando e compactuando para que estes mestres tenham VIDA LONGA. Vida longa á emblemática dançologia¹²por um gesto honesto’, destes ‘desorganizadores de fichário’!

Claudia Ramalho
Pesquisadora, Editora, Assistente Coreográfica, Preparadora corporal e Intérprete-criadora.
Cia. Rubens Barbot Teatro de Dança (desde 2001)
Cia. Arquitetura do Movimento (desde 2007).
 
ABSTRACT
The article presents dançologia black carioca, briefly, the trajectory of the first group of african-brazilian contemporary dance in the country, Rubens Barbot Dance Theatre Company founded in 1990 in the city of Rio de Janeiro by the artists, the gaúcho Rubens Barbot and argentine Gatto Larsen. With 21 years of continuous foundation, the group extends its field of operation covering the traditional choreography for shows, through street performances and other events of art, as well as films, documentaries and is currently producing project of national artistic connection Terreiro Contemporary and yard Companies, and the blog Terreiro Contemporary Magazine, showing that even without financial support is crucial institutional fixed architectural fragment of cultural and historical black Brazilian dance.

Keywords: 1. African Dance – Culture - Brazil. 2. Afrocontemporary Dance – History - Rio de Janeiro. 3. Dançologia - Rubens Barbot Dance Theatre Company.

 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
¹ SIQUEIRA, Denise C. O. “Corpo, comunicação e cultura: a dança contemporânea em cena”. Campinas, SP: Autores Associados, 2006.
² RAMALHO, Claudia R. G.Dança Afro-brasileira Contemporânea” - Módulo IV: Corporeidade e Performance Afro-brasileira’. Apostila 7: Pós-graduação ‘Estudos Culturais e Históricos da Diáspora e Civilização Africana’. Macaé: FUNEMAC/ FEMASS, 2007.
³ RAMALHO, Claudia R. G. “Dança Carioca: Por um gesto honesto”. (Mestrado em Ciência da Arte) – Instituto de Arte e Comunicação Social da UFF. Niterói, 2006.
4 Barbot In: RAMALHO, Claudia R. Gomes e MEIRELLES, Daniela. “Inédito na Dança: Busca ou Acaso?”. (MCC Licenciatura em Educação Física) – EEFD/UFRJ - Fundão, RJ, 2001: pg. 43.
5 TAVARES, Júlio C.. “Subversão Somática”. Nova York: 2000. (Artigo)
6 Idem
7 Selecionado para representar o Brasil, em turnê na Alemanha: Munique e Frankfurt, onde Barbot é reconhecido pelos críticos como ‘O Mago da Dança’ brasileira; (RAMALHO, 2006: pgs. 103 e 104).
8 Toque de Dança: suíte para percussão e corpos’ (1996), destaque na 7º Bienal de Lyon (FR) (RAMALHO, 2006: pgs. 102 e 103).
9 Reconhecidas com prêmio de melhor obras no Festival Internacional ‘Danza Libre’ em 1990- (ARG), também ganhando o troféu MITIZI SIRGEZA de melhor companhia. . Intérpretes-criadores - Rubens Rocha, Luiz Monteiro e Sérgio Menezes. (RAMALHO, 2006: pgs. 100 e 101).
¹° Informação do site oficial da companhia -http://ciarubensbarbotteatrodedanca.blogspot.com
¹¹ Idem
¹² RAMALHO, Claudia R. G.. “Performance do Samba: Uma dançologia em processo”. Artigo publicado no site: www.portalabrace.org Ver também “Performance do Samba: Por uma Dançologia do Samba Carioca”. (enap2010.wordpress.com).